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Buracos negros não são buracos, mas bolhas

Agostinho Rosa - 03/05/2002

Buracos negros não são buracos

Os buracos-negros são um dos mais instigantes desafios da ciência, e têm ocupado astrônomos e físicos por décadas. Eles já foram a inspiração de romances e filmes, nos quais eram responsáveis por engolir naves espaciais e atirá-las do outro lado do universo ou em outras dimensões. Mas os escritores de ficção poderão necessitar rever suas aventuras. Cientistas do Laboratório Los Alamos (Estados Unidos) apresentaram uma nova teoria para os buracos negros, tão inovadora que começa por rebatizar os distantes e indecifráveis corpos celestes. De autoria dos físicos Emil Mottola e N.M. Pawel Mazur, a nova teoria afirma que os buracos negros não são buracos, mas bolhas negras.

A teoria correntemente aceita explica os buracos negros como o estágio final de uma estrela morta. Quando o hidrogênio em fusão nas estrelas finalmente acaba, sua grande massa e gravidade faz com que elas caiam sobre si mesmas, reduzindo-se a um mero ponto, com uma densidade tão grande que nem sequer a luz consegue escapar de sua gravidade. Daí o termo buraco: tudo o que se aproxima do raio de ação de sua gravidade, literalmente cai em seu diminuto interior. Esse raio de ação é um ponto sem volta, chamado pelos cientistas de horizonte de eventos do buraco-negro. Desse ponto em diante, nenhuma radiação consegue escapar.

Um buraco-negro não pode ser visto diretamente. Sua existência é demonstrada ao se observar a ação de sua gravidade. Mais da metade das estrelas observadas no céu têm uma irmã gêmea. Elas formam o que os cientistas chamam de sistemas binários, no qual duas estrelas gravitam uma em torno da outra. Essa gravitação provoca alterações em suas órbitas e luminosidade. Quando uma das estrela morre e transforma-se em um buraco negro, estas alterações no comportamento de sua irmã gêmea permanecerão. Ou seja, a irmã ainda viva continuará a sofrer as alterações causadas por aquele novo corpo celeste, que deve estar ali, próximo a ela. É assim que os cientistas identificam os buracos-negros: eles encontram uma estrela que sofre a ação de uma irmã gêmea que não está lá. Logo, ali há um buraco-negro. Centenas deles já foram identificados. Mas, pela sua própria natureza, elas nunca poderão ser fotografados. As ilustrações e cenas virtuais que aparecem nos filmes são simplesmente fruto do imaginário artístico.

Segundo os estudiosos norte-americanos, quando a estrela morre, ela realmente "cai sobre si mesma", mas somente até um certo ponto. Deste ponto em diante, a intensa força gravitacional transforma a matéria da estrela em um novo estado, impossível de ser experienciado na Terra. Mas os cientistas comparam este estado com o condensado de Bose-Einstein, recentemente demonstrado em experiências. O condensado de Bose-Einstein é um estado atingido quando a matéria se aproxima do zero absoluto. Neste estado, o movimento das partículas formadoras do átomo - elétrons, prótons e todas as partículas subatômicas - simplesmente cessa. Sem movimento, todos os átomos passam então a ter a mesma energia ou estado quântico, formando então um super átomo, uma espécie de "matéria original".

Este "certo ponto" até onde a estrela cai sobre si mesma coincide com o horizonte do buraco-negro. O horizonte não seria então uma área no entorno do buraco, mas a própria superfície desse novo corpo celeste, formado por este estado especial da matéria. O mais interessante é que a formação de algo como um átomo único, ou super átomo, não forma uma esfera, mas uma bolha, de superfície extremamente fina, fria e totalmente negra. E mais: virtualmente indestrutível. Saem os buracos-negros, entram as bolhas negras. Ou melhor, entram os GRAVASTAR. Este é o novo nome dado ao corpo celeste por Mottola e Mazur. A palavra é um acrônimo para GRA(vitational) VA(cuum) STAR.

Mas se acaba com a graça dos filmes ao redor dos buracos-negros, a nova teoria apresenta pontos que serão um prato cheio para os escritores de ficção científica.

Tudo o que se aproximar de um GRAVASTAR não será esmagado em um minúsculo centro. Se serve de consolo, ele poderá ser destruído e assimilado pela casca da bolha. A simples menção da palavra "assimilado" já deverá garantir novos roteiros para os escritores mais antenados. Mas os cientistas afirmam que qualquer matéria que se aproxime da superfície do Gravastar poderá também ser reemitida como uma nova forma de energia. Ou seja, há uma forma de se escapar de um Gravastar. Outro ponto que abre caminho para devaneios é o interior da bolha. Tratando-se de um estado da matéria totalmente novo, vácuo não é uma palavra adequada. Seria algo totalmente diferente do espaço-tempo, ou das três dimensões que conhecemos. Sem distâncias, sem tempo. Fascinante, diria Spock.

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