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Espaço

Ainda não conhecemos nosso lugar no Universo

Moisés de Freitas - 08/01/2010

Ainda não conhecemos nosso lugar no Universo
O estudo é sério e foi muito bem feito. Mas as conclusões devem ser vistas com cautela. Com a mesma cautela dos inúmeros outros que tentaram, por meio de cálculos sem embasamento adequado, impedir ou denegrir os estudos que buscam vida fora da Terra.
[Imagem: NASA]

Outras Terras

Graças às novas tecnologias desenvolvidas ao longo dos últimos 20 anos, a capacidade de encontrar exoplanetas - planetas que circundam outras estrelas que não o Sol - fez com que esse campo de pesquisas saltasse das conjecturas para a contagem direta de corpos celestes antes considerados meras especulações.

Mas estas tecnologias são novas e precisam de refinamentos. Isto tem feito com que, até agora, só tenham sido encontrados planetas gigantescos e quentes, orbitando suas estrelas a ponto de quase tocá-las.

O Telescópio Espacial Kepler é a mais poderosa dessas novas ferramentas e já apresentou suas primeiras descobertas. Mas ele deverá ser o primeiro a encontrar "outras Terras," exoplanetas circundando suas estrelas em órbitas que permitam condições de vida semelhantes às da Terra.

De 1% a 45%

Até lá, o campo continuará dependente de cálculos. Outros pesquisadores já fizeram suas contas e concluíram que nosso Sistema Solar é muito especial - suas simulações levaram-nos a crer que 1% dos sistemas planetários da Via Láctea seriam semelhantes ao nosso.

Agora, uma nova pesquisa elevou esse número para impressionantes 15%. O mesmo pesquisador já havia feito um cálculo que resultara em 45%.

Segundo a análise, apresentada durante a reunião da Sociedade Astronômica dos Estados Unidos, em Washington, 15% de todas as estrelas em nossa galáxia compõem sistemas solares como o nosso, que conta com diversos planetas gigantes gasosos em sua parte mais externa.

Teorias frágeis

Mas o novo estudo parece demonstrar mais a fragilidade dos cálculos e projeções do que fornecer qualquer novo alento às buscas por outras formas de vida - a conclusão foi tirada do estudo de um único sistema extrassolar.

"Apesar dessa determinação inicial de 15% ser baseada em apenas um único sistema como o Sistema Solar, e de o número final poder mudar consideravelmente, nosso estudo indica que podemos começar a fazer tais medidas com os instrumentos de que dispomos hoje", disse Scott Gaudi, da Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos.

Preconceitos

Ainda hoje é fácil encontrar cientistas que se opõem à busca por civilizações fora da Terra - o Programa Seti somente sobreviveu graças a doações de particulares.

No meio científico, contudo, nenhum preconceito sobrevive às evidências - e a enxurrada de exoplanetas encontrados está alavancando novas pesquisas.

E as evidências parecem dar mais sustentação às novas pesquisas do que cálculos estatisticamente questionáveis - os 15% de agora não parecem ser muito mais seguros do que o 1% de antes, fazendo parecer ridícula a afirmação do pesquisador de que "Agora conhecemos nosso lugar no Universo."

De fato, não conhecemos nosso lugar no Universo e, menos ainda, quantos lugares como o nosso existem espalhados não apenas por nossa galáxia, mas, no mínimo, pelo grupo de galáxias do qual fazemos parte.

Microlente gravitacional

Se as conclusões parecem exageradamente pretensiosas, o mérito da pesquisa é grande. Os resultados do estudo derivam de uma colaboração internacional chamada Microlensing Follow-Up Network (MicroFUN), que tem como objetivo vasculhar o céu em busca de exoplanetas.

Os pesquisadores usam um efeito conhecido como microlente gravitacional, que ocorre quando uma estrela passa na frente da outra, conforme vistas da Terra. A estrela mais próxima amplifica a luz da mais distante, como se fosse uma lente.

Se a estrela mais próxima tiver planetas em órbita, eles aumentam ligeiramente o efeito de ampliação quando passam pelo campo de observação dos instrumentos terrestres.

Esse método é especialmente adequado para detectar planetas gigantes nos extremos de sistemas estelares - planetas parecidos com Júpiter. Talvez uma explicação - a deficiência da tecnologia - para que apenas um sistema solar parecido com o nosso tenha sido detectado até agora. O que lança ainda mais dúvidas sobre a segurança dos cálculos agora apresentados.

Refinamento

A pesquisa é resultado de uma década de estudos. Há dez anos, o astrônomo escreveu sua tese de doutorado a respeito de um método para calcular a probabilidade da existência de planetas extrassolares. Na época, ele concluiu que menos de 45% das estrelas poderiam conter configurações semelhantes à do Sistema Solar.

Em dezembro de 2009, Gaudi estava analisando o espectro de propriedades dos planetas extrassolares encontrados até então, junto com Andrew Gould, professor de Astronomia da Universidade do Estado de Ohio, quando descobriram inesperadamente um padrão.

"Basicamente, verificamos que a resposta já estava na tese de Scott. Ao inserir os últimos quatro anos de dados do MicroFUN nos cálculos feitos há dez anos, conseguimos estimar as frequências dos sistemas planetários", disse Gould.

O estudo é sério e foi muito bem feito. Mas as conclusões devem ser vistas com cautela. Com a mesma cautela dos inúmeros outros que tentaram, por meio de cálculos sem embasamento adequado, impedir ou denegrir os estudos que buscam vida fora da Terra.

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