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Meio ambiente

Controlar a iluminação das ruas protege humanos e insetos

Júlio Bernardes - Agência USP - 12/05/2009

Controlar a iluminação das ruas protege humanos e insetos
Equipamento de coleta utilizado para medir a atração dos insetos pelas luzes das luminárias
[Imagem: Alessandro Barghini]

A iluminação artificial sem controle é uma forma de poluição prejudicial aos insetos, que ficam desorientados em seus movimentos e se reproduzem menos, como aponta uma pesquisa do Instituto de Biociências (IB) da USP. Além do risco da extinção de espécies, a iluminação também afeta os vegetais com a queda na polinização.

O estudo também demonstra que a adoção de filtros nas luminárias atrai menor número de insetos, reduzindo o contato do homem com os transmissores de doenças como a leishmaniose e a doença de Chagas.

Guiando-se pelas estrelas

"A visão dos insetos possui maior sensibilidade à faixa ultravioleta do espectro de luz, utilizando o brilho noturno das estrelas para balizar seu movimento em linha reta", conta Alessandro Barghini, economista com doutorado em Ecologia pela USP e pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE), também da universidade, que realizou o estudo.

"A iluminação artificial faz os insetos se movimentarem em curva, ao redor das luminárias, desperdiçando o tempo que seria utilizado na reprodução das espécies, e causando choques freqüentes com as lâmpadas".

Insetos nocivos

O pesquisador ressalta que a iluminação artificial também pode atrair insetos que transmitem doenças ao homem e cita os casos de contaminação por doença de Chagas acontecidos em fevereiro e março de 2005 em Santa Catarina.

"A iluminação de vapor de mercúrio de uma venda de beira de estrada fazia o barbeiro, transmissor a doença, se esconder no depósito de cana usada para a produção de garapa, provocando o contágio", conta. No total, 12 pessoas foram contaminadas ao tomarem caldo de cana.

Efeitos do filtro nas lâmpadas

Para avaliar os efeitos da poluição luminosa sobre os insetos e descobrir formas de controle, o pesquisador utilizou luminárias com um coletor acoplado. A lâmpada de vapor de sódio atraiu uma média de 40 insetos por noite, contra 67 da lâmpada de mercúrio.

A luminária com filtro de luz, aplicado no vidro de proteção da lâmpada de sódio, atraiu apenas 15 insetos por noite - um coletor sem iluminação recebeu a média de 8 insetos. "O filtro reduz a exposição da radiação ultravioleta e evita que o inseto se guie pela luz", explica Barghini.

Difusão da luz

Outro modo de reduzir os efeitos da iluminação artificial é a mudança na forma de difusão da luz. "Anteparos colocados nas luminárias, por exemplo, fazem com que o inseto não se oriente pelo brilho das luzes", aponta o pesquisador. "A adoção de iluminação baixa diminui a área iluminada, reduzindo a atração de insetos".

Alessandro Barghini sugere que medidas de controle da iluminação sejam adotadas pelos grandes projetos de distribuição e conservação de energia elétrica, tais como o Luz Para Todos e o Programa de Eficiência da Iluminação Pública (Prolux), do governo federal. "Essas iniciativas devem levar em conta o impacto da iluminação, especialmente em áreas de periferia", ressalta. "Na Grã Bretanha, toda a luz que sai da área que precisa ser iluminada é considerada poluição luminosa".

Contaminação com leishmaniose

De acordo com o pesquisador, as luminárias podem favorecer a contaminação da leishmaniose em regiões periféricas das grandes cidades. "As luzes atraem o inseto transmissor, que parasita cachorros e galinhas, que levam a doença para o homem", explica. No caso da doença de Chagas, existem vários estudos na literatura científica demonstrando a relação entre a iluminação artificial e o contágio pelo barbeiro. "Muito se sabe sobre detecção e tratamento, mas as pesquisas pouco avançaram na prevenção e controle".

Barghini acrescenta que a adoção de filtros nas luminárias, aplicados por deposição metálica no vidro de proteção da lâmpada, não encarece os custos de produção. O estudo é descrito na tese de doutorado de Barghini, apresentada no Instituto de Biocências (IB) da USP. A pesquisa teve orientação do professor Walter Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do IB.

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