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Empresa sueca inaugura centro de pesquisa e inovação no Brasil

Janaína Simões - Inova Unicamp - 18/05/2011


Pesquisa aeronáutica

A empresa sueca Saab inaugura no dia 18 de maio o Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CIBS), em São Bernardo do Campo, na Região Metropolitana de São Paulo.

A Saab é uma das empresas que disputa o contrato de fornecimento dos 36 caças supersônicos para renovação da frota da Força Aérea Brasileira (FAB). As outras são a norte-americana Boeing e a francesa Dassault.

A iniciativa de criar um centro de pesquisa e inovação no Brasil é um dos argumentos que a Saab apresenta ao governo para que seu avião, o Gripen, seja o selecionado na licitação dos caças da FAB.

Para se diferenciar da Boeing, que ofereceu o caça F-18, e da Dassault e seu caça Rafale, a empresa sueca anunciou no ano passado a intenção de instalar um centro de pesquisa e desenvolvimento no País.

A proposta apresentada pela companhia se relaciona a um caça que ainda é um protótipo - diferente dos modelos da Boeing e da Dassault, que já estão em operação há muitos anos.

Contudo, a proposta sueca prevê a participação do Brasil no desenvolvimento do caça e transferência de tecnologia. A Saab planeja investir R$ 50 milhões no CIBS em cinco anos no Brasil.

Empresa e universidade

Para o início de suas atividades de P&D no País no âmbito do CIBS, a Saab procurou pela Universidade Federal do ABC (UFABC) em outubro de 2010, já com a proposta de criação do centro em colaboração com a universidade, contou Luciana Pereira, professora do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da UFABC, em seminário promovido no dia 9 de maio pelo Observatório da Inovação e Competitividade, vinculado ao Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, em São Paulo.

A pesquisadora está trabalhando em um dos projetos que serão executados no âmbito da parceria entre a Saab e a UFABC, e sua apresentação foi sobre o tema "Um panorama sobre o Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CIBS)".

Ex-aluna de pós graduação da USP na área de inovação, Luciana falou, de forma extra-oficial, pois não representa quadro diretor na universidade, sobre a estruturação do CIBS e a relação entre o centro e a UFABC.

Segundo ela, o novo centro de P&D tem por objetivo promover atividades de pesquisa que sejam realizadas de forma conjunta entre universidades e empresas, tanto suecas quanto brasileiras.

"O CIBS quer investir em parcerias para inovação em alta tecnologia, pensando em questões de ensino e aprendizado tecnológico. Uma preocupação que eles [os suecos] trazem - e é característico do processo de desenvolvimento dos países nórdicos e escandinavos - é a questão ambiental", explicou ela.

As áreas iniciais de atuação do CIBS são defesa, aeronáutica e segurança; transporte e logística; desenvolvimento urbano (com enfoque em aspectos sócio-ambientais). O motivo de o CIBS estar sendo instalado em São Paulo é o fato de o Estado ter muito investimento sueco, a ponto de ser considerado o segundo parque industrial da Suécia, de acordo com a pesquisadora da UFABC.

Sistema de inovação brasileiro

Dos R$ 50 milhões previstos para os próximos cinco anos, segundo Luciana, R$ 2 milhões seriam aplicados no primeiro ano de funcionamento do CIBS, para a parte de construção física do centro, que será inaugurado no dia 18, e contratação dos primeiros funcionários. A partir do segundo ano, o CIBS vai precisar de contrapartida financeira dos parceiros brasileiros - empresas e universidades - para desenvolver os projetos.

"Eles [os suecos] estão bem informados quanto ao sistema de inovação brasileiro", afirmou Luciana, explicando que a Saab conhece as instituições que apoiam financeiramente os projetos de P&D das empresas, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a Finep, agência de fomento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Projetos sueco-brasileiros

Luciana contou que a Saab e a UFABC já elaboraram alguns projetos que deverão ser tocados pelo CIBS.

O primeiro é o projeto de nanoengenharia de fibra de carbono de polímeros reforçados para materiais mecanicamente resistentes. É coordenado por Frank Crespilho, professor da UFABC, e Pontus Nordin, da Saab. A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) também é parceira no projeto, que tem previsão de duração de três anos e meio e visa a aplicação industrial.

O segundo projeto em estruturação é o de desenvolvimento de uma câmera de monitoramento para veículos aéreos não tripulados. Coordenado por Mario Minami, professor da UFABC, e por Patrick Doherty, da Universidade de Linköping. A FEI, antiga Faculdade de Engenharia Industrial, é parceira no projeto, que está orçado em R$ 683 mil e tem duração estimada entre três e cinco anos. Uma das aplicações possíveis para essa tecnologia é em segurança pública urbana.

O terceiro projeto se chama Engenharia Colaborativa para Sistemas Móveis Sustentados, cuja sigla, em inglês, é COSMOS. Coordenado por Annibal Hetern, da UFABC, e Petter Krus, da Universidade de Linköping, também tem duração prevista de três a cinco anos e está orçado em R$ 455 mil. Além da UFABC e da Universidade de Linköping, são parceiros do projeto a FEI, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Escola Politécnica da USP (Poli); as empresas Volvo, Vale, Embraer, além da própria Saab; e as agências Vinnova e ABDI.

"Minha impressão pessoal é de que a seleção dos projetos foi determinada pelo fato de que existiam pessoas dentro da universidade e na Suécia que estavam trabalhando nesses temas. Mas isso é apenas minha opinião", comentou Luciana, ao ser questionada por uma das pessoas do auditório sobre os critérios de seleção dos projetos. Para ela, que estuda o sistema de inovação no Brasil, as avaliações preliminares da proposta do CIBS indicam que haverá maiores investimentos suecos no País.

Ela lembrou que, no curto prazo, as colaborações entre instituições de ensino e pesquisa e empresas suecas e brasileiras estão ocorrendo mesmo sem a definição de compra dos caças pelo Brasil. "Olhando o longo prazo, o fortalecimento do CIBS e a atração de novos investimentos talvez dependa mais do sucesso dos projetos iniciais, das parcerias, do que ao fornecimento dos caças", apontou.

Contraponto ao projeto sueco

Em janeiro de 2010, o jornal O Globo publicou reportagem sobre o vazamento de um informe técnico da Comissão Coordenadora do Programa Aeronaves de Combate (Copac), que havia exposto claramente a preferência pela aquisição do caça Gripen.

O jornal carioca ouviu pilotos e brigadeiros que consideraram a escolha "míope" porque o quesito com maior peso na escolha, o preço do caça, levava em conta apenas o valor do avião. Os preços do Rafale, francês, e do F-18, norte-americano, traziam também o valor do armamento.

De acordo com o texto, o Gripen custaria metade do valor do caça francês, cujo preço seria US$ 70 milhões. Já o caça norte-americano custaria US$ 55 milhões.

Os entrevistados pelo jornal, que não foram identificados, consideraram a proposta da Saab honesta, mas de alto risco, já que o caça apresentado para o governo brasileiro está ainda na fase de projeto, enquanto o francês e o norte-americano já operam há anos.

Porém, justamente a possibilidade de participar do desenvolvimento do caça é colocada pela Saab como a grande vantagem de seu projeto, já que os brasileiros trabalhariam de forma cooperativa e dominariam a tecnologia, não seria uma simples transferência tecnológica.

Outro complicador para o projeto, na visão apresentada pelo jornal, é o fato de que o motor e software usados pelo Gripen serem feitos nos EUA. Isso implicaria obter junto a esse país a autorização da transferência de tecnologia, algo sempre complicado quando se trata de tecnologias da área de defesa dos norte-americanos.

De acordo com a reportagem já citada, como vantagem tecnológica, a Boeing teria oferecido a possibilidade de a Embraer fabricar as asas e a fuselagem, além de abrir à indústria brasileira o acesso à sua linha completa de produtos. Já a Dassault teria prometido transferência irrestrita de tecnologia e poderia transmitir os segredos de fabricação de mísseis, o que ajudaria o Brasil a produzir o armamento a ser usado no caça.

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