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Materiais Avançados

Inspirado em aranha, material superhidrofóbico fica seco por meses dentro d'água

Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/10/2023

Inspirado em uma aranha, material superhidrofóbico fica seco por meses dentro d'água
Testes de imersão em líquidos de várias densidades.
[Imagem: Alexander B. Tesler et al. - 10.1038/s41563-023-01670-6]

Plastrão

Existe uma espécie de aranha que vive toda a sua vida debaixo d’água, apesar de ter pulmões que só conseguem respirar o oxigênio atmosférico - ela só vem à superfície esporadicamente para recolher o ar de que precisa.

Como isso acontece? A aranha-de-água (Argyroneta Aquatica) possui milhões de pelos ásperos e repelentes à água que prendem o ar ao redor de seu corpo, criando um reservatório de oxigênio e funcionando como uma barreira entre os pulmões da aranha e a água.

Esta fina camada de ar é chamada de plastrão e, durante décadas, os cientistas têm tentado imitar seus efeitos protetores, o que pode permitir a criação de superfícies superhidrofóbicas capazes de prevenir a corrosão em oleodutos e plataformas de petróleo, o crescimento bacteriano e a adesão de organismos marinhos em navios, as incrustações químicas e vários outros efeitos deletérios dos líquidos nas superfícies. Mas os plastrões biomiméticos criados até agora revelaram-se altamente instáveis debaixo d'água, mantendo as superfícies secas durante apenas algumas horas no laboratório.

Agora, pesquisadores da Alemanha, EUA e Finlândia finalmente conseguiram desenvolver um plastrão superhidrofóbico estável, que se manteve funcional por meses embaixo d'água. Embora a viabilização da utilização em grandes estruturas petrolíferas e navios exija que essa durabilidade alcance anos, meses já é suficiente para pensar em várias aplicações práticas, sobretudo no campo da biomedicina.

"A pesquisa em materiais bioinspirados é uma área extremamente interessante que continua a trazer para o reino dos materiais feitos pelo homem soluções elegantes evoluídas na natureza, que nos permitem introduzir novos materiais com propriedades nunca antes vistas," disse a professora Joanna Aizenberg, da Universidade de Harvard, nos EUA. "Esta pesquisa exemplifica como a descoberta desses princípios pode levar ao desenvolvimento de superfícies que mantêm a superhidrofobicidade debaixo d'água."

 

Biomimetismo

Um dos maiores problemas com os plastrões é que eles precisam de superfícies ásperas para se formar, como os pelos da aranha-de-água. Mas essa rugosidade torna a superfície mecanicamente instável e suscetível a qualquer pequena perturbação de temperatura, pressão ou pequeno defeito de fabricação.

A equipe conseguiu agora identificar uma série de parâmetros, incluindo informações sobre a rugosidade da superfície, a hidrofobicidade das moléculas da superfície, a cobertura do plastrão, os ângulos de contato e outros, que, quando combinados com a teoria termodinâmica, permitiram descobrir se o plastrão de ar seria estável ou não.

Com esse conhecimento e uma técnica de fabricação simples, os pesquisadores projetaram uma superfície aerofílica feita de uma liga de titânio de baixo custo. O resultado é um plastrão de longa duração, que manteve a superfície seca por milhares de horas a mais do que experimentos anteriores, e ainda mais do que os plastrões de espécies vivas.

"Nós usamos um método de caracterização sugerido por teóricos há 20 anos para provar que a nossa superfície é estável, o que significa que não só criamos um novo tipo de superfície superhidrofóbica extremamente repelente e extremamente durável, mas também podemos ter um caminho de fazer isso de novo com um material diferente," disse Alexander Tesler, responsável pelos experimentos.

 

Testes e aplicações

Para provar a estabilidade do novo material, os pesquisadores dobraram-no, torceram-no, jatearam-no com água quente e fria e o lixaram com areia e aço para tentar bloquear a superfície aerofílica. Mesmo depois disso, as amostras sobreviveram 208 dias submersas em água e a centenas de mergulhos em líquidos de várias densidades, incluindo sangue.

Nos experimentos práticos, a superfície superhidrofóbica reduziu fortemente o crescimento das bactérias E.coli e de cracas na superfície onde foi aplicada, além de interromper completamente a adesão dos mexilhões.

Até conseguir melhorar a durabilidade para os níveis de aplicação industrial, a equipe está voltando seus esforços para as aplicações biomédicas, onde o material poderá ser usado para reduzir infecções pós-cirúrgicas ou como implantes biodegradáveis, como stents.

Bibliografia:

Artigo: Long-term stability of aerophilic metallic surfaces underwater
Autores: Alexander B. Tesler, Stefan Kolle, Lucia H. Prado, Ingo Thievessen, David Böhringer, Matilda Backholm, Bhuvaneshwari Karunakaran, Heikki A. Nurmi, Mika Latikka, Lena Fischer, Shane Stafslien, Zoran M. Cenev, Jaakko V. I. Timonen, Mark Bruns, Anca Mazare, Ulrich Lohbauer, Sannakaisa Virtanen, Ben Fabry, Patrik Schmuki, Robin H. A. Ras, Joanna Aizenberg, Wolfgang H. Goldmann
Revista: Nature Materials
DOI: 10.1038/s41563-023-01670-6
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