Redação do Site Inovação Tecnológica - 17/11/2021
Buraco na interpretação
A primeira imagem de um buraco negro ganhou as manchetes do mundo todo, e agora já está presente até mesmo nos livros didáticos.
Mas, e se o que estivermos vendo naquela imagem não for exatamente um buraco negro?
Esta hipótese surpreendente acaba de ser levantada, e justificada, por um grupo de quatro astrofísicos chineses.
No centro da discussão está a imagem do objeto central da galáxia M87, feita por um consórcio internacional de pesquisadores usando o Telescópio Horizonte de Eventos, um telescópio virtual que cobre quase a Terra inteira, tirando proveito de uma técnica conhecida como interferometria de linha de base muito longa (VLBI).
Embora os dados que geraram a imagem tenham sido analisados e reanalisados por centenas de astrônomos e astrofísicos, o fato é que essas equipes não se ocuparam em invalidar interpretações alternativas.
"A colaboração EHT tentou mostrar que a imagem observada é globalmente consistente com as expectativas para a sombra de um buraco negro de Kerr," explica o professor Masoumeh Chakraborty, do Instituto Kavli para Astronomia e Astrofísica. "Como as alternativas ao buraco negro de Kerr não foram descartadas, investigamos se os dados do EHT também são consistentes ou não com modelos alternativos para o objeto central do M87."
Monopolo gravitomagnético
O argumento da equipe centra-se no chamado "monopolo gravitomagnético".
"Na natureza, os pólos magnéticos norte e sul sempre andam de mãos dadas. Cortar uma barra magnética ao meio apenas cria dois ímãs, cada um dos quais ainda tem dois pólos, em vez de criar pólos norte e sul separados em cada metade. No entanto, seus primos eletrostáticos, as cargas positivas e negativas, existem independentemente," explica Chakraborty.
Além disso, dentro da física teórica, gravidade e eletromagnetismo têm características análogas:
"A massa é considerada análoga à carga elétrica. Portanto, chamamos a massa de carga gravitoelétrica. A próxima questão é: A carga gravitomagnética, ou o chamado monopolo gravitomagnético, existe na natureza?" contextualiza Chakraborty.
O que a equipe fez foi demonstrar que os dados que a Colaboração EHT usou para construir a imagem do que eles dizem ser um buraco negro, estes mesmos dados podem ser interpretados como sendo a imagem de um monopolo gravitomagnético.
Em termos mais técnicos, a região central da galáxia M87 seria o que os físicos chamam de espaço-tempo Kerr-Taub-NUT, uma solução exata para as equações de Einstein que uma série de físicos foi aprimorando ao longo dos anos para estudar as singularidades, cujo exemplo mais conhecido é o buraco negro - Kerr é Roy Kerr [1934-], Taub é Abraham Haskel Taub [1911-1999] e NUT são as iniciais de Ezra T. Newman, Louis A. Tamburino e Theodore W. J. Unti.
"Nenhum modelo está incorreto e isso basicamente restringe fortemente a estrutura do espaço-tempo da fonte de rádio compacta central em M87," conclui Chakraborty, acrescentando que todas as teorias concorrentes podem ser testadas. "Essencialmente, medições precisas do tamanho da sombra e da assimetria podem colocar fortes restrições no parâmetro Kerr e no parâmetro NUT, e quebrar as degenerescências entre os espaços-tempos de Kerr e Kerr-Taub-NUT, incluindo aqueles entre os buracos negros e as singularidades nuas."