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Progresso científico e tecnológico está desacelerando - e não sabemos o porquê

Redação do Site Inovação Tecnológica - 10/01/2023

Progresso científico e tecnológico está desacelerando  - e não sabemos o porquê
O potencial revolucionário das descobertas científicas caiu drasticamente em todas as áreas - mas zerou nas ciências físicas.
[Imagem: Michael Park et al. - 10.1038/s41586-022-05543-x]

Declínio das revoluções científicas

Grandes avanços na ciência costumam vir na forma de descobertas surpreendentes, que rompem com o paradigma anterior. Um exemplo clássico é o artigo que descreveu o formato de hélice dupla do DNA, publicado em 1953.

Mas esse tipo de descoberta - conhecida como disruptiva, em contraposição às "pequenas" descobertas, ditas incrementais - está diminuindo com o tempo.

Esta é a conclusão de uma grande análise publicada pela revista Nature, cobrindo 25 milhões de artigos científicos do banco de dados Web of Science, publicados entre 1945 e 2010. Como a inovação disruptiva também é comum nas grandes empresas, a equipe examinou também 3,9 milhões de patentes publicadas entre 1976 e 2010.

A conclusão é cabal: O número de artigos científicos publicados disparou como um foguete nesse período, mas o potencial de causar uma revolução no conhecimento diminuiu largamente.

Em comparação com as publicações até o final do século XX, as pesquisas publicadas na primeira década do século XXI são muito mais propensas a fornecer impulsos incrementais ao conhecimento atual do que a se desviar em uma nova direção e tornar o trabalho anterior obsoleto.

Michael Park e seus colegas da Universidade de Minnesota, nos EUA, acreditam que esse mar de "mais do mesmo" se deve a uma espécie de "bloqueio da criatividade", criado pela cultura do "publicar ou perecer" que impera no meio científico, com os pesquisadores sendo avaliados pela quantidade artigos que publicam.

A equipe também cita a enorme quantidade de trabalho necessária para alcançar a fronteira do conhecimento, o que é necessário para fazer o conhecimento dar um salto.

Descobertas incrementais e descobertas disruptivas

A equipe usou uma métrica conhecida como "índice CD", que usa as citações de um artigo científico por outros artigos como um indicador da importância daquele primeiro artigo para a área de conhecimento.

A ideia é que um estudo disruptivo torne obsoleta grande parte da pesquisa anterior, de modo que os artigos subsequentes terão menos probabilidade de citar a pesquisa anterior a esse artigo disruptivo. Por outro lado, se o progresso representado por aquele artigo é apenas incremental, é mais provável que os artigos posteriores que o citam também citem as fontes que o próprio trabalho cita.

O índice CD médio diminuiu mais de 90% entre 1945 e 2010 para os artigos científicos, e mais de 78% de 1980 a 2010 para as patentes. O potencial revolucionário dos artigos diminuiu em todos os campos de pesquisa e em todos os tipos de patentes analisados - as ciências físicas tiveram o maior declínio percentual, com a pontuação média caindo de 0,36 em 1945 para 0 hoje.

Os pesquisadores também fizeram uma análise semântica dos artigos e verificaram que, enquanto aqueles publicados na década de 1950 eram mais propensos a usar palavras que evocam criação ou descoberta, aqueles publicados na primeira década deste século são mais propensos a se referir a um progresso incremental, usando termos como "aprimorar" ou "melhorar".

E este resultado está de acordo com outra pesquisa, publicada em 2019, que mostrou que grandes equipes de cientistas fazem pequenos progressos científicos, ou incrementais, enquanto as descobertas realmente disruptivas são feitas por pequenas equipes - acontece que hoje o empreendimento científico é largamente dominado por grandes equipes.

Fim do conhecimento ou fim do nosso modo de fazer ciência?

Há muitas histórias e lendas sobre como o homem encara seu nível de conhecimento.

Em um depoimento ao Congresso, o chefe do escritório de patentes dos EUA, Charles H. Duell, disse em 1889 que ele acreditava que seu escritório até poderia ser fechado, afinal "Tudo o que podia ser inventado, já foi inventado". O famoso físico Lorde Kelvin também caiu nessa armadilha, afirmando, em 1900: "Agora, não há mais nada novo para ser descoberto pela Física. Tudo o que nos resta são medições cada vez mais precisas". Isso foi antes da Relatividade e da Mecânica Quântica.

O meio acadêmico parece não ter aprendido com essas lições, e a explicação mais aceita hoje entre os cientistas é que essa queda no potencial revolucionário das pesquisas poderia ser explicada porque as "frutas mais baixas" no pomar já foram colhidas, e que agora só nos restaria aprimorar as teorias científicas, que estariam mais perto de estarem "corretas" e serem definitivas.

O professor Russell Funk, que liderou esta nova análise, não concorda com isso, enfatizando que há muitos fenômenos com os quais a ciência ainda não se deparou, além do fato de que o conhecimento acumulado hoje é tão grande que os cientistas passam tempo demais adquirindo conhecimento para chegarem à fronteira, onde um novo conhecimento revolucionário poderia ser produzido.

Quem está certo? Aqueles que acham que estão sempre certos e acreditam que já sabem quase tudo certamente que não. Outros, com mais bom senso, sugerem uma revolução científica por meio da convergência, que envolve a fusão das grandes áreas da ciência. Mas há também sugestões alternativas, de que a ciência passará a ser feita por equipes ciborgues, por exemplo.

Bibliografia:

Artigo: Papers and patents are becoming less disruptive over time
Autores: Michael Park, Erin Leahey, Russell J. Funk 
Revista: Nature
Vol.: 613, pages 138-144
DOI: 10.1038/s41586-022-05543-x

Artigo: Large teams develop and small teams disrupt science and technology
Autores: Lingfei Wu, Dashun Wang, James A. Evans 
Revista: Nature
Vol.: 566, pages 378-382
DOI: 10.1038/s41586-019-0941-9
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