Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/05/2025
Robôs birutas
Os bonecos birutas infláveis passaram de curiosidades divertidas para um recurso de propaganda profissional, e agora eles deram um passo rumo à alta tecnologia.
Alberto Comoretto e colegas do Instituto Amolf, nos Países Baixos, usaram o mesmo princípio dos bonecos balançantes para criar um robô que anda, salta e até nada, tudo sem cérebro, eletrônica ou inteligência artificial - apenas tubos flexíveis, ar e um pouco de física básica bem explorada.
É um dos robôs macios mais rápidos já criados, e um dos mais simples.
Ele não possui microcontrolador, nem software e nem mesmo sensores. E ainda assim, ele se move com coordenação e autonomia surpreendentes, simplesmente por causa da estrutura do seu corpo e do modo como ele interage com o ambiente.
Ou seja, a mesma física que faz os bonecos birutas se mexerem e dançarem tornou-se a chave para criar uma nova família de robôs autônomos e muito versáteis - não são muitos os robôs que conseguem andar e nadar sem precisar de qualquer alteração, por exemplo.
Movimento sincronizado autônomo
As pernas do robô são feitas de tubos ocos macios. Impulsionadas apenas por um fluxo contínuo de ar, cada uma delas começa a oscilar, como os bonecos infláveis na calçada - o fluxo de ar é embarcado, ou seja, gerado no corpo do próprio robô, o que significa que ele é autônomo.
Sozinha, cada perna balança aleatoriamente. Mas quando muitas delas são acopladas de modo bem planejado, começa a acontecer algo interessante: Seus movimentos se sincronizam rapidamente, assumindo movimentos rítmicos que se prestam muito bem à locomoção.
"De repente, a ordem emerge do caos," disse Comoretto. "Não há código, nem instruções. As pernas simplesmente entram em sincronia espontaneamente, e o robô decola. Assim como vaga-lumes piscando em sincronia ou células cardíacas pulsando em uníssono, movimentos coletivos complexos surgem de interações simples."
Mais rápido que Ferrari
Outra característica inesperada do robô é a velocidade. Quando o fluxo de ar é ligado, o robô atinge uma velocidade de caminhada de 30 comprimentos de corpo por segundo.
Quer uma comparação? Uma Ferrari atinge apenas 20 comprimentos de corpo por segundo. Ou seja, a velocidade do robô é ordens de magnitude mais rápida do que a de outros robôs movidos a ar, que ainda exigem um controle computadorizado à parte do próprio robô.
E não para por aí: A sincronização é adaptativa. Se o robô encontrar um obstáculo, ele se reorienta. Ao se mover da terra para a água, por exemplo, o ritmo da marcha muda espontaneamente de um padrão de salto em fase para um nado livre. Essas transições ocorrem sem nenhum processador central ou lógica de controle: O movimento emerge do forte acoplamento entre o corpo do robô e o ambiente, sem a necessidade de qualquer sensor que detecte a presença de água ou do ar.
"Na biologia, frequentemente vemos uma inteligência descentralizada similar," disse Mannus Schomaker, membro da equipe. "Estrelas-do-mar, por exemplo, coordenam centenas de pés tubulares usando retroalimentação local e dinâmica corporal, não um cérebro centralizado."
Máquina com múltiplas aplicações
Esta demonstração desafia a ideia convencional de que robôs precisam de sistemas de controle complexos para realizar comportamentos complexos ou realistas.
"Objetos simples, como tubos, podem dar origem a comportamentos complexos e funcionais, desde que entendamos como aproveitar a física subjacente," disse o professor Bas Overvelde, coordenador da equipe. Na verdade, o próprio pesquisador prefere não chamar a criação de sua equipe de robô. "Não há cérebro, nem computador. Essencialmente, é uma máquina. Mas, quando projetada corretamente, pode superar muitos sistemas robóticos e se comportar como uma criatura artificial," disse Overvelde.
Mas os pesquisadores esperam que seu trabalho inspire novas formas de pensar o projeto robótico: Sistemas mais simples, mais adaptáveis e robustos, não por meio da computação e da IA, mas da física.
Aplicações possíveis não faltam, de pílulas inteligentes à tecnologia espacial. Microrrobôs seguros sem microeletrônica, que possam ser engolidos e liberar medicamentos após atingirem o tecido-alvo de forma autônoma, exoesqueletos robóticos vestíveis, que se sincronizam com os passos da caminhada sem processadores, reduzindo o consumo de energia e aumentando a força humana, pertencem ao primeiro grupo. Mas também podem ser máquinas mecânicas autônomas, adequadas para ambientes extremos como o espaço, onde a eletrônica tradicional pode falhar devido às variações extremas de temperatura e aos altos níveis de radiação.
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