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Encontro discute a participação das mulheres nas ciências

Agência Brasil - 02/02/2010

Encontro discute a participação das mulheres nas ciências
As mulheres representam apenas 34% do número de bolsistas. Em algumas áreas, como engenharia elétrica, a porcentagem de mulheres que requisitam bolsas só chega a 5%.
[Imagem: Novartis]

Ciência feminina

O Brasil e o Reino Unido se uniram para articular entre os pesquisadores a formação de uma rede de pesquisa voltada para o público feminino e ainda incentivar a consolidação de políticas públicas visando a maior inserção e participação das mulheres em todos os campos da ciência no Brasil e em outros países.

O assunto está sendo discutido no Encontro Brasil-Reino Unido sobre Mulheres e Ciências, na sede do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na abertura do evento, estiveram a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), Nilcéia Freire, o presidente do CNPq, Carlos Aragão e a vice-presidente Wrana Panizzi.

Bolsas para mulheres

Wrana Pazzini destacou a importância do envolvimento das mulheres em todas as esferas, inclusive no campo científico. "Nós mulheres somos aquelas que queremos participar do mundo em todos os sentidos, em todas as suas lutas", disse.

De acordo com dados divulgados no encontro, o número de bolsas em produtividade de pesquisa distribuídas pelo CNPq anualmente tem os homens como seu público principal. As mulheres representam apenas 34% do número de bolsistas. Em algumas áreas, como engenharia elétrica, a porcentagem de mulheres que requisitam bolsas só chega a 5%.

A respeito da disparidade de bolsas destinadas aos diferentes gêneros, a ministra Nilcéia disse que "não existe nenhum determinante biológico para as mulheres gostarem mais de humanas e os homens de exatas, isso é uma construção cultural. Então, à medida que essa construção é desfeita, certamente mudará esse padrão de distribuição".

Indicadores separados por sexo

Segundo Nilcéia, é de extrema importância analisar a historicidade dos indicadores científicos que nos mostram os desafios que as mulheres enfrentam ao se aventurar no mundo das ciências e ainda disse que é indispensável à realização de diagnósticos atuais e apropriados para desenvolver ações que reparem as desigualdades ainda existentes.

"A disponibilidade de indicadores de ciência e tecnologia separados por sexo em todas as dimensões em que se desenvolve atividade científica é um quesito básico para conhecer o estado da ciência e a detecção de padrões de estratificação", afirmou a Ministra.

A Ministra disse ainda ser fundamental encontros como esse, para discutir os dilemas que a mulher cientista contemporânea enfrenta ao ingressar no mundo dominado pelo ethos masculino.

Diferentes visões de mundo

No encontro foi considerado que garantir a participação equitativa entre homens e mulheres na ciência é essencial, "não apenas por uma questão de justiça, mas também porque vivemos em uma sociedade moderna, na qual a inovação adquiriu uma importância primordial. Assim, não faz sentido aproveitar tão mal metade da fonte de ideias potencialmente revolucionarias".

"A visão de mundo das mulheres é diferente da dos homens, o que faz com que elas façam perguntas cientificas diferentes, e tenham opinião distinta. Nenhum campo deveria está fora da perspectiva da mulher, pois assim estaremos desperdiçando 50% da capacidade intelectual do nosso país", afirmou Nilcéia.

Ascensão feminina

Preocupada com o cenário inquietante das mulheres na Ciência, a vice-presidente do CNPq, Wrana Panizzi afirmou que a proporção de bolsistas mulheres cresce nas diferentes modalidades, mas diminui na medida que cresce o nível da bolsa.

Isso, segundo ela, demonstra que uma parcela das mulheres que passam pelos primeiros estágios de capacitação e treinamento para as atividades científicas se perde ao longo desse caminho ou simplesmente não ganha o reconhecimento dos pares através da concessão de suas bolsas.

Os dados revelam que quanto maior a hierarquia acadêmica ou cientifica, menor é a participação feminina. Segundo Panizzi, as estatísticas apontam que, se por um lado, as mulheres têm participado cada vez mais das atividades de C&T no Brasil, por outro ainda não avançam tanto em cargos e posições de destaque e reconhecimento, com raras exceções.

"Nós vemos que o número de mulheres é mais alto na base que no topo e essa situação de desigualdade no mundo acadêmico só irá deixar de existir se forem tomadas medidas de incentivo a participação das mulheres na ciência, principalmente nas engenharias, computação, matemática, física e filosofia, que é composto em sua maioria por homens", disse Panizzi.

Potencial de transformação

O presidente do CNPq, Carlos Alberto Aragão, que tomou posse semana passada, afirmou ser uma grande honra poder iniciar sua agenda com um programa com um enorme peso e potencial de transformação.

"Precisamos superar os gargalos e estimular a discussão e a realização de pesquisas nessa área. Impulsionar e consolidar políticas públicas para a maior inserção e participação das mulheres em todos os campos da ciência e em todas as instâncias é fundamental", afirmou o presidente.

Humanas e saúde

Mas os resultados não são apenas negativos. Segundo dados do CNPq, as mulheres são maioria no campo das ciências sociais e humanidades em geral e têm uma participação igualitária ou levemente maior nas ciências da saúde.

Durante a abertura do evento foi destacado pela especialista britânica Teresa Rees, representante do Reino Unido, que um dos fatores relevantes na hora de explicar as dificuldades das mulheres no desenvolvimento de carreiras cientificas é condicionamento cultural proveniente de uma socialização prematura ou a situação particular da mulher em relação à maternidade. Porque na maioria dos casos, diz-se que a maternidade ocorre em coincidência com a etapa de formação de doutorado.

Outro ponto relevante que Tereza Rees comentou foi que ainda persiste preconceitos como o de que a mulher não teria a mesma capacidade e competência, que pelo fato de ser casada e ter filhos, estaria impossibilitada de viajar para participar de congressos, de que não poderia exercer cargos de chefia e direção, entre outros.

Discriminação

Segundo ela, umas das grandes dificuldades também para as pesquisadoras são que os comitês de julgamento de projetos de pesquisa na maioria são compostos por homens.

"No mundo todo, a maioria dos membros das academias de ciência e dos órgãos e institutos responsáveis por conceder bolsas e verbas de pesquisas são formados por homens. A exclusão das mulheres pode estar sendo provocada por práticas discriminatórias, que mesmo involuntárias e inconscientes, tem afetado e muito a participação da mulher no sistema de C&T, assim como na natureza do conhecimento que se produz", afirmou Rees.

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