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Eletrônica

A humilde hematita vira estrela da tecnologia de ponta

Redação do Site Inovação Tecnológica - 30/04/2025

Hematita, mineral de ferro, vira estrela da tecnologia de ponta
Dois modos interferentes criam ondas de spin (espirais vermelhas/azuis), injetando uma corrente de spin (esferas vermelhas/azuis com setas) em uma camada de platina integrada (azul). Os padrões de interferência são detectados separadamente por um feixe de laser (verde). A seta curva no topo ilustra que a polarização resultante é controlada dinamicamente.
[Imagem: Anna Duvakina/LMGN EPFL]

Hematita spintrônica

A humilde e largamente disseminada hematita (Fe2O3), um dos muitos óxidos de ferro e o principal minério de onde o ferro é extraído, acaba de ser alçada ao patamar de estrela da tecnologia, ocupando espaço ao lado de compostos exóticos e materiais quânticos.

Lutong Sheng e colegas da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), na Suíça, descobriram que a hematita é o material que toda a comunidade científica estava procurando para fazer avançar o campo da spintrônica, um modo mais rápido e mais eficiente de fazer computação usando o momento magnético do elétron, e não sua carga elétrica.

Em 2023, a mesma equipe descobriu como fazer computação usando ondas magnéticas, também conhecidas como ondas de spin, cujas quasipartículas são chamadas magnons, em lugar do tradicional fluxo de elétrons, ou corrente elétrica.

O truque está em usar sinais de radiofrequência para excitar as ondas de spin o suficiente para reverter o estado de magnetização de pequenos nanoímãs. Quando alternado de 0 para 1, por exemplo, isso permite que os nanoímãs armazenem informações digitais, um processo usado nas memórias de computador e, mais amplamente, nas tecnologias de informação e comunicação.

Foi um grande passo em direção à computação sustentável porque a codificação de dados por meio de ondas de spin pode eliminar a perda de energia, ou aquecimento Joule, associado a dispositivos baseados em elétrons.

Mas faltava um detalhe: Naquele experimento original, os sinais da onda de spin não podiam ser usados para redefinir os bits magnéticos, ou seja, não era ainda possível reescrever os dados existentes. É aí que entra a hematita.

Hematita, mineral de ferro, vira estrela da tecnologia de ponta
O próximo passo será construir componentes spintrônicos usando a hematita e testar suas habilidades de leitura, apagamento e reescrita.
[Imagem: Lutong Sheng et al. - 10.1038/s41567-025-02819-7]

Modos de magnons

A equipe descobriu um comportamento magnético sem precedentes na hematita: O composto de óxido de ferro abundante na Terra e muito mais ecológico do que os materiais atualmente usados na spintrônica, permite escrever e reescrever os dados magnéticos repetidamente.

"Este trabalho demonstra que a hematita não é apenas um substituto sustentável para materiais consagrados, como a granada de ítrio-ferro. Ela apresenta uma física de spin totalmente nova que pode ser aproveitada para processamento de sinais em frequências ultra-altas, o que é essencial para o desenvolvimento de dispositivos spintrônicos ultrarrápidos e suas aplicações na próxima geração de tecnologias de informação e comunicação," disse o professor Dirk Grundler.

Materiais magnéticos, como a granada de ítrio e ferro citada pelo pesquisador, produzem magnons muito caraterísticos, mas sempre com o mesmo comportamento e as mesmas propriedades - os físicos chamam isso de magnons de modo único. Mas a hematita apresentou um fenômeno de interferência entre ondas separadas de spin que geram modos adicionais de magnons.

E ter pelo menos dois modos magnônicos é crucial: Significa que as correntes de spin geradas pelos magnons podem ser ajustadas para alternar entre polarizações opostas no mesmo dispositivo, o que pode, por sua vez, alternar o estado de magnetização de um nanoímã em qualquer direção.

Assim, a hematita poderá finalmente viabilizar a codificação e o armazenamento repetidos de dados digitais nesses sistemas computacionais emergentes.

"A hematita é conhecida pelo homem há milhares de anos, mas seu magnetismo era fraco demais para aplicações comuns. Agora, descobriu-se que ela supera um material que foi otimizado para eletrônica de micro-ondas na década de 1950," disse Grundler. "Essa é a beleza da ciência: Você pode pegar esse material antigo e abundante na Terra e encontrar uma aplicação muito oportuna para ele, o que pode nos permitir ter uma abordagem mais eficiente e sustentável para a spintrônica."

Bibliografia:

Artigo: Control of spin currents by magnon interference in a canted antiferromagnet
Autores: Lutong Sheng, Anna Duvakina, Hanchen Wang, Kei Yamamoto, Rundong Yuan, Jinlong Wang, Peng Chen, Wenqing He, Kanglin Yu, Yuelin Zhang, Jilei Chen, Junfeng Hu, Wenjie Song, Song Liu, Xiufeng Han, Dapeng Yu, Jean-Philippe Ansermet, Sadamichi Maekawa, Dirk Grundler, Haiming Yu
Revista: Nature Physics
DOI: 10.1038/s41567-025-02819-7
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