Redação do Site Inovação Tecnológica - 27/05/2025
Super-visão
As lentes de contato, que permitem que milhões de pessoas enxerguem melhor, agora poderão dar aos humanos uma espécie de "super-visão".
As novas lentes permitem enxergar o comprimento de onda infravermelho, o equivalente à conhecida "visão noturna", ao converter a luz infravermelha em luz visível.
Ao contrário dos óculos de visão noturna infravermelhos, estas novas lentes de contato não precisam de uma fonte de energia, e ainda permitem que o usuário perceba múltiplos comprimentos de onda infravermelhos, algo como uma visão noturna colorida. A pessoa enxerga as imagens de calor mesmo com os olhos fechados.
E, como as lentes são transparentes, a pessoa pode ver a luz infravermelha e a luz visível simultaneamente.
"Nossa pesquisa abre o potencial para dispositivos vestíveis não invasivos que ofereçam super-visão às pessoas," disse o professor Tian Xue, da Universidade de Ciência e Tecnologia da China. "Existem muitas aplicações potenciais para este material. Por exemplo, a luz infravermelha cintilante pode ser usada para transmitir informações em ambientes de segurança, resgate, criptografia ou combate à falsificação."
Visão infravermelha
As lentes de contato adquirem sua capacidade de visão noturna graças a nanopartículas que absorvem luz infravermelha e a convertem em comprimentos de onda visíveis aos nossos olhos, tipicamente a radiação eletromagnética na faixa de 400 a 700 nanômetros (nm).
As nanopartículas permitem especificamente a detecção de luz infravermelha próxima, que é a luz infravermelha na faixa de 800 a 1600 nm, um pouco além da faixa que os humanos conseguem enxergar. A equipe já havia demonstrado anteriormente que essas nanopartículas permitem a visão infravermelha em camundongos quando injetadas na retina, mas eles queriam desenvolver uma opção menos invasiva, adequada para uso humano.
Eles então combinaram as nanopartículas com os polímeros flexíveis e atóxicos usados na fabricação das lentes de contato gelatinosas comuns. Após demonstrarem que as lentes de contato eram atóxicas, eles testaram sua função em camundongos e, a seguir, confirmaram seu adequado funcionamento em humanos.
Nestes primeiros testes em humanos, as lentes de contato infravermelhas permitiram aos participantes detectar com precisão sinais piscantes semelhantes a códigos Morse e perceber a direção da luz infravermelha incidente.
"É totalmente claro: sem as lentes de contato, o sujeito não consegue ver nada, mas, quando as coloca, consegue ver claramente a cintilação da luz infravermelha," contou Xue. "Também descobrimos que, quando o sujeito fecha os olhos, ele consegue receber essa informação cintilante ainda melhor, porque a luz infravermelha próxima penetra na pálpebra com mais eficácia do que a luz visível, portanto, há menos interferência da luz visível."
Lentes de contato para daltônicos
Um ajuste adicional nas lentes de contato, inserindo nanopartículas projetadas para codificar diferentes comprimentos de onda infravermelhos, permitiu que os usuários diferenciassem entre diferentes espectros da luz infravermelha.
Por exemplo, comprimentos de onda infravermelhos de 980 nm foram convertidos em luz azul, comprimentos de onda de 808 nm foram convertidos em luz verde e comprimentos de onda de 1.532 nm foram convertidos em luz vermelha.
Além de permitir que os usuários percebam mais detalhes dentro do espectro infravermelho, essas nanopartículas codificadas por cores podem ser modificadas para ajudar pessoas daltônicas a enxergar comprimentos de onda que, de outra forma, seriam incapazes de detectar. "Convertendo a luz vermelha visível em algo como a luz verde visível, essa tecnologia pode tornar o invisível visível para pessoas daltônicas," disse Xue.
Como as lentes de contato têm uma capacidade limitada de capturar detalhes finos, devido à proximidade com a retina, o que faz com que as partículas de luz convertidas se espalhem, a equipe também desenvolveu um sistema de óculos usando a mesma tecnologia de nanopartículas, o que permitiu aos participantes perceber informações infravermelhas de alta resolução.
No momento, as lentes de contato só conseguem detectar radiação infravermelha forte, como a projetada por uma fonte de luz LED, mas os pesquisadores estão trabalhando para aumentar a sensibilidade das nanopartículas para que elas possam detectar níveis mais baixos de luz infravermelha. "No futuro, trabalhando em conjunto com cientistas de materiais e especialistas em óptica, esperamos criar uma lente de contato com resolução espacial mais precisa e maior sensibilidade," disse Xue.
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