Redação do Site Inovação Tecnológica - 12/08/2025
O dilema da temperatura
Engenheiros japoneses construíram uma célula a combustível que opera a pouco mais de um terço da temperatura operacional das células atuais.
Ao contrário das baterias, que liberam energia química armazenada na forma de eletricidade, as células de combustível convertem o combustível químico diretamente em eletricidade - mantenha o tanque da célula cheio e ela não para de produzir eletricidade.
O tipo mais comum e promissor desses geradores especiais são as células de combustível de hidrogênio de óxidos sólidos (SOFC: Solid-Oxide Fuel Cell), que convertem o gás hidrogênio em eletricidade, gerando apenas água como subproduto.
Só tem um problema: Essas células precisam de temperaturas muito altas para funcionar, na faixa de 700 a 800 graus Celsius, o que encarece muito sua fabricação e limita sua utilização prática.
Agora, Kota Tsujikawa e colegas da Universidade Kyushu desenvolveram uma nova célula combustível de óxido sólido com uma temperatura operacional eficiente de 300 °C. A equipe espera que seu avanço leve ao desenvolvimento de SOFCs de baixa temperatura e baixo custo, acelerando significativamente a aplicação prática desses dispositivos.
O dilema do eletrólito
O coração de uma célula de combustível de hidrogênio é o eletrólito, uma camada cerâmica que transporta partículas carregadas entre os dois eletrodos, para criar a corrente elétrica. Nas SOFCs, o eletrólito transporta íons de hidrogênio, também conhecidos como prótons. No entanto, a célula de combustível precisa operar em temperaturas extremamente altas para funcionar com eficiência.
Os eletrólitos são compostos por diferentes combinações de átomos dispostos em uma estrutura de rede cristalina. É entre esses átomos que os prótons viajam. Por isso, pesquisadores têm explorado diferentes combinações de materiais e dopantes químicos - substâncias que alteram as propriedades físicas do material - para melhorar a velocidade com que os prótons viajem através dos eletrólitos.
Mas aqui tem outro problema: "Adicionar dopantes químicos pode aumentar o número de prótons móveis que passam por um eletrólito, mas geralmente obstrui a rede cristalina, desacelerando os prótons. Buscamos cristais de óxido que pudessem hospedar muitos prótons e deixá-los se mover livremente - um equilíbrio que nosso novo estudo finalmente alcançou," disse o professor Yoshihiro Yamazaki.
Escândio
A equipe descobriu que dois compostos, o estanato de bário (BaSnO3) e o titanato de bário (BaTiO3), devidamente dopados com altas concentrações de escândio (Sc), alcançam a condutividade de prótons de referência da célula a combustível (0,01 S/cm) a meros 300 ºC, um nível de condutividade comparável aos eletrólitos SOFC atuais, que exigem temperaturas na casa dos 700 ºC.
Isso é possível porque o escândio cria uma espécie de rodovia de múltiplas pistas para os prótons, que então fluem muito mais facilmente.
"Além das células de combustível, o mesmo princípio pode ser aplicado a outras tecnologias, como eletrólises de baixa temperatura, bombas de hidrogênio e reatores que convertem CO2 em produtos químicos valiosos, multiplicando assim o impacto da descarbonização. Nosso trabalho transforma um paradoxo científico de longa data em uma solução prática, aproximando a energia de hidrogênio acessível da vida cotidiana," conclui Yamazaki.
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