Redação do Site Inovação Tecnológica - 21/11/2025

Arseneto de boro
Já apontado como o melhor semicondutor de todos, o arseneto de boro (BAs), mesmo que não venha a substituir o silício, tem sido apontado nos anos recentes como um material promissor para o gerenciamento de calor e a eletrônica avançada.
E se, no quesito semicondutor, ele tem potencial para substituir o rei do pedaço, o silício, ele pode também superar o rei da condutividade termal, o diamante, quando o quesito avaliado é a transferência de calor.
Ange Niyikiza e colegas da Universidade de Houston, nos EUA, acabam de sintetizar amostras de arseneto de boro que transferem calor de modo mais eficiente do que o diamante, que há muito tempo é considerado a referência nesse quesito entre os materiais isotrópicos.
Niyikiza descobriu que, quando os cristais de BAs são produzidos com alta pureza, eles podem atingir valores de condutividade térmica superiores a 2.100 watts por metro por Kelvin (W/mK) à temperatura ambiente, superando o próprio diamante. O valor de referência do diamante é de 2.000 W/mK, mas os resultados observacionais variam de 1.800 a 2.400 W/mK, também dependendo da pureza da amostra estudada.
Estes resultados contestam os modelos teóricos aceitos hoje, e podem reformular a maneira como os cientistas pensam sobre a movimentação de calor nos materiais sólidos. Os dados também confirmam o arseneto de boro como uma nova e promissora opção de semicondutor para dispositivos que exijam gerenciamento térmico avançado, incluindo celulares, eletrônicos de alta potência e centrais de dados.
"Nós temos confiança em nossas medições; nossos dados estão corretos e isso significa que a teoria precisa de correção," disse Zhifeng Ren, coordenador da equipe. "Não estou dizendo que a teoria está errada, mas um ajuste precisa ser feito para que ela seja consistente com os dados experimentais."

Melhor condutor de calor
O arseneto de boro tem intrigado os cientistas na última década. Em 2013, a equipe do físico David Broido, coautor deste estudo experimental, previu que, teoricamente, o arseneto de boro poderia conduzir calor com a mesma eficiência - ou até melhor - do que o diamante. No entanto, novos modelos teóricos, revisados em 2017, adicionaram um fator conhecido como espalhamento de quatro fônons, o que reduziu o desempenho previsto para cerca de 1.360 W/mK. Isso fez com que muitos na área abandonassem a ideia de que o arseneto de boro pudesse superar a condutividade térmica do diamante.
O grupo de Ren, no entanto, suspeitou que a revisão para baixo dos valores esperados não era devido à capacidade intrínseca do arseneto de boro, mas sim às impurezas presentes nele - amostras experimentais anteriores chegaram apenas a 1.300 W/mK, bem abaixo das condições ideais utilizadas nas previsões teóricas.
Eles então desenvolveram novas técnicas de síntese, produzindo amostras com níveis mais elevados de pureza, e chegaram agora a 2.100 W/mK, superando não apenas os resultados experimentais anteriores, mas também o próprio limite teórico. E os valores obtidos agora poderão ser superados, já que o limite está na engenharia de fabricação do composto, e não em suas propriedades intrínsecas.
"Este novo material é maravilhoso," disse Ren. "Ele possui as melhores propriedades de um bom semicondutor e de um bom condutor térmico - todos os tipos de boas propriedades em um único material. Isso nunca aconteceu com outros materiais semicondutores."

Não se deixe limitar pelas teorias
As implicações desta confirmação experimental vão muito além das medições de laboratório. O arseneto de boro tem potencial para revolucionar a eletrônica e a tecnologia de semicondutores, fornecendo um material que dissipa o calor de forma eficaz e apresenta desempenho de semicondutor de alta qualidade.
Ele tem várias vantagens em relação aos concorrentes atuais, incluindo:
"Você não deve deixar que uma teoria o impeça de descobrir algo ainda maior, e foi exatamente isso que aconteceu neste trabalho," concluiu Ren.