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Eletrônica

O melhor semicondutor de todos? Talvez não

Redação do Site Inovação Tecnológica - 22/07/2022

Arseneto de boro: O melhor semicondutor de todos?
O arseneto de boro mostrou-se um semicondutor melhor do que o esperado. Mas será que ele é mesmo o "melhor de todos"?
[Imagem: Christine Daniloff/MIT]

Semicondutor perfeito?

O silício tem sido um semicondutor bom o bastante para revolucionar a tecnologia humana, fazendo-nos dar em 50 anos um salto maior do que em milênios passados.

E esse elemento tão abundante na Terra fez isto mesmo não sendo o que os físicos chamam de um "semicondutor ideal".

De fato, ninguém é perfeito: Embora o silício permita que os elétrons passem facilmente por sua estrutura cristalina, ele é muito menos acolhedor em relação às lacunas, ou buracos, as quasipartículas carreadoras das cargas positivas - e o aproveitamento de ambas é importante para alguns tipos de chips.

Além disso, o silício não é muito bom em conduzir calor, sendo que evitar os problemas de superaquecimento foi uma das principais razões pelas quais o aumento de potência dos processadores teve que ser desacelerada.

Por conta disso, a busca por semicondutores mais próximos do ideal nunca cessou.

E Jungwoo Shin e colegas de várias universidades da China e dos EUA acreditam estar mais próximos desse objetivo.

Arseneto de boro: O melhor semicondutor de todos?
Inicialmente será necessário desenvolver técnicas para sintetizar o arseneto de boro cúbico em larga escala.
[Imagem: University of Houston]

Arseneto de boro

O novo material, cujas características acabam de ser descritas como mais próximas do ideal do que o silício, é o arseneto de boro (BAs).

De fato, o arseneto de boro é um velho conhecido da equipe, que já havia demonstrado que esse material pode diminuir o aquecimento dos processadores.

A novidade agora é que eles conseguiram sintetizar uma forma cristalina do BAs conhecida como cúbica, que até hoje só havia sido gerada em amostras muito pequenas e cheias de defeitos.

E, ao estudar esse cristal um pouco mais puro, a equipe demonstrou que ele apresenta uma altíssima mobilidade ambipolar, ou seja, que deixa trafegar igualmente os negativos elétrons e as positivas lacunas, e essa baixa resistência às cargas positivas diminui o calor gerado pela passagem da corrente.

Os experimentos confirmaram que a condutividade térmica do arseneto de boro cúbico é várias vezes maior que a do silício em relação às cargas positivas.

Mas, para falar em substituição do silício, ainda falta muito. Para começar, será necessário determinar se o arseneto de boro cúbico poderá ser fabricado de forma prática e econômica, e muitas pesquisas adicionais serão necessárias para se ter uma ideia de suas reais possibilidades técnicas.

Por outro lado, mesmo que ele não venha a substituir o silício, o material pode encontrar seu próprio nicho, onde suas propriedades únicas façam uma diferença.

Mobilidade das portadoras

A mobilidade das portadoras de cargas elétricas é medida na unidade centímetros quadrados por volt por segundo (cm2V-1s-1).

Nos experimentos que uma parte da equipe realizou no MIT, nos EUA, os pesquisadores relataram uma mobilidade de 1.600 cm2V-1s-1. Essa parte do trabalho usou um método de grade transitória óptica para medir a mobilidade elétrica e a condutividade térmica.

Nos experimentos realizados na China, contudo, usando uma técnica diferente, foram obtidos resultados que variam de 1.500 cm2V-1s-1 a 3.000 cm2V-1s-1, devido a variações na qualidade das amostras. E, nestes casos de pico, parece que as lacunas apresentam uma mobilidade muito superior à dos elétrons, criando um contraste ainda maior com o silício.

Para comparação, o silício tem uma mobilidade média de 1.000 cm2V-1s-1 (1.400 para os elétrons e 450 para as lacunas). Mas outros semicondutores já bem conhecidos e usados pela indústria são muito melhores: o germânio alcança 4.000 cm2V-1s-1 e o arseneto de gálio pode chegar a 10.000 cm2V-1s-1.

Assim, a alegação dos pesquisadores de que o arseneto de boro poderia ser "o melhor semicondutor de todos" parece largamente exagerada.

Bibliografia:

Artigo: High ambipolar mobility in cubic boron arsenide
Autores: Jungwoo Shin, Geethal Amila Gamage, Zhiwei Ding, Ke Chen, Fei Tian, Xin Qian, Jiawei Zhou, Hwijong Lee, Jianshi Zhou, Li Shi, Thanh Nguyen, Fei Han, Mingda Li, David Broido, Aaron Schmidt, Zhifeng Ren, Gang Chen
Revista: Science
Vol.: 377, Issue 6604 pp. 437-440
DOI: 10.1126/science.abn4290

Artigo: High ambipolar mobility in cubic boron arsenide revealed by transient reflectivity microscopy
Autores: Shuai Yue, Fei Tian, Xinyu Sui, Mohammadjavad Mohebinia, Xianxin Wu, Tian Tong, Zhiming Wang, Bo Wu, Qing Zhang, Zhifeng Ren, Jiming Bao, Xinfeng Liu
Revista: Science
Vol.: 377, Issue 6604 - pp. 433-436
DOI: 10.1126/science.abn4727
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