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Cientista protestante vai presidir Academia de Ciências do Vaticano

Eveline Kobler, do Swissinfo - 25/04/2011


Academia Nobel

A Pontifícia Academia de Ciências é um conselho ocupado por grandes nomes da ciência mundial, que orienta o Papa em questões científicas.

Werner Arber, biólogo molecular suíço, ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, em 1978, é o primeiro protestante a presidir a Academia.

A Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano tem 80 membros, entre homens e mulheres. Eles não precisam ser necessariamente católicos. Cerca de um terço dos membros são vencedores do Prêmio Nobel.

O suíço Werner Arber foi Prêmio Nobel de Medicina em 1978. Ele é professor aposentado de biologia molecular na Universidade da Basileia e, há trinta anos, membro desse conselho papal.

Há três meses ele se tornou presidente da instituição. O Swissinfo, um serviço do governo suíço de divulgação do país no exterior, fez uma entrevista com o cientista.

O senhor preside a Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano. Quais são suas funções nesse posto?

Werner Arber: Nós acompanhamos o progresso nas ciências e refletimos o que este significa para a sociedade. Periodicamente informo o Vaticano sobre as nossas reflexões.

Como primeiro protestante a chefiar a Pontifícia Academia de Ciências, o senhor é tratado de outra forma que se fosse católico?

W.A.: Eu não posso responder essa questão, pois não tenho referências. Presumidamente tornei-me presidente porque as pessoas perceberam que sou um cientista que demonstra ter um amplo campo de interesses.

O Papa determina quais são os temas a serem analisados pela Pontifícia Academia de Ciências?

W.A.: Vez ou outra, na verdade raramente, o Vaticano manifesta um desejo.

Há alguns anos organizamos uma conferência sobre o "Momento da Morte". A questão era determinar se uma pessoa está morta quando seu coração ou o cérebro param.

Esse foi um tema sugerido pelo Papa.

Quais foram as conclusões tiradas pela Academia?

W.A.: Depois de consultar especialistas da área médica, chegamos à conclusão que a morte do cérebro é mais importante do que a do coração. Em todo caso, é possível reanimar alguém depois que seu coração cessa de bater.

Mas, honestamente, constatamos que nunca é possível determinar esse quadro na base dos segundos. Existem pessoas que vivem há anos em um quadro de coma. A medicina levanta a questão de saber quando é eticamente responsável retirar um órgão.

Além disso, o Vaticano interessa-se pela pergunta: qual é o momento em que a alma abandona o corpo. Obviamente não foi possível respondê-la do ponto de vista científico.

Então a Pontifícia Academia de Ciências parece ser um órgão independente, de fato, do Vaticano?

W.A.: Sim, ela tem uma longa história. Dizem que existe há mais de quatrocentos anos, desde o tempo de Galileu Galilei. Foi um momento em que a Igreja cometeu muitos erros frente à ciência. Porém o Vaticano tem consciência disso e reabilitou Galileu em 1992.

Qual é o nível de influência da Pontifícia Academia de Ciências em relação ao Papa?

W.A.: Eu diria que, vez ou outra, o Papa adota nossas reflexões e as utiliza em seu conhecimento. Suas decisões são, então, influenciadas por elas.

O que une o Papa às ciências?

W.A.: São questões como saber o que é a verdade!

Muitas outras pessoas também refletem sobre isso, sejam religiosas ou não.

O que é a verdade? De onde venho? O que irá ocorrer no futuro? São também questões da evolução: qual a diferença entre a vida e a não-vida?

Por trás da evolução o Papa vê um "Creator Spiritus", uma força que planejou de forma direcionada a evolução, Deus. Como o senhor analisa essa visão?

W.A.: As ciências não podem até hoje - o que talvez seja possível em centenas de anos, não sei - provar se Deus existe ou não, não importando o que seja.

Como cientista, não vejo nenhum desejo primordial de criar o ser humano.

Para ser sincero, nós precisamos determinar: é possível afirmar muita coisa sobre a verdade, mas eu, como pesquisador da evolução, não posso dizer como surgiu a primeira forma de vida.

Como a ciência explica isso?

W.A.: A ciência fala de auto-organização.

Podemos dar informações detalhadas sobre como a evolução funciona nos dias de hoje. Podemos falar sobre a evolução cósmica ou sobre a evolução da vida. Se sabe quando o sol terá consumido toda sua energia e deixará de ser o sol.

Isso é parte de uma evolução natural. Até então teremos as diversas formas de vida sobre o nosso planeta.

Como devemos entender essa análise?

W.A.: Precisamos definir o que é a vida.

A definição da NASA, a Agência Espacial Americana, contém dois critérios para a vida: em primeiro lugar, ele deve ser capaz de se reproduzir, ou seja, ter crias; em segundo, a população deve ser capaz de se adaptar às novas condições de vida, deve passar por uma evolução independente.

Esse é o caso no nosso planeta. Todos os seres vivos são capazes de fazê-lo. Eu parto do princípio que isso é uma boa definição do que é a "vida".

O que pensam os Papas sobre essa ampla definição

W.A.: Em 1995, o Papa João Paulo II confirmou em uma audiência com a Academia que é preciso levar em consideração que a vida passa por uma evolução e possa se adaptar a outras condições. Ele não disse que isso é um fato concreto, mas sim que é preciso levar esse ponto em consideração.

O Papa Bento XVI não afirmou até agora nada contra isso. Porém que eu saiba, ele também nunca debateu profundamente essa questão. Pessoas próximas do Papa me disseram que a Igreja Católica vê na evolução biológica e cósmica um processo de permanente criação.

Há alguns anos as universidades papais oferecem um programa denominado STOQ (de science, theology and the ontologigcal quest, ou ciência, teologia e a questão ontológica, a parte da filosofia que trata da natureza do ser). Eu faço parte da comissão de planejamento desse programa.

STOQ organiza seminários com a presença de cientistas, teólogos, filósofos, filósofos da ciência e historiadores da ciência. Neles discutem-se os pontos de confluência entre conhecimentos das ciências naturais, doutrinas teológicas e a verdade.

Nesse programa discute-se também a questão de saber se a diferença feita pela Igreja Católica entre homens e mulheres é justificável?

W.A.: Tanto na Academia como também nesse programa atuam mulheres. Eu não sei se a posição da mulher na sociedade e na Igreja já foi um tema neles. No projeto STOQ - assim como na Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano - são debatidas questões ligadas às ciências naturais e não sociais.

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