Cientistas não dão créditos para as descobertas mais importantes

Redação do Site Inovação Tecnológica - 20/05/2024

Esta rede mostra 880 artigos científicos de física como nós e halos. O tamanho do nó corresponde a citações explícitas, enquanto os halos representam citações ocultas. Halos maiores indicam mais citações ocultas. Os links conectam artigos se tiverem um mínimo de 20% de cocitações em suas citações no arXiv. As cores representam os temas - azul: física de altas energias; vermelho: física da matéria condensada; amarelo: física quântica; verde: astrofísica; cinza: outros campos.
[Imagem: Xiangyi Meng et al. - 10.1093/pnasnexus/pgae155]

Descrédito científico

Na literatura científica, uma citação funciona como um mecanismo para sinalizar um conhecimento prévio, dando crédito aos autores originais e se protegendo contra acusações de plágio. Ao citar esse conhecimento, os autores colocam uma nota de rodapé dizendo: "Esta informação está fundamentada no artigo 'tal'."

Ao dar crédito ao indivíduo ou equipe que estabeleceu ou descobriu o conhecimento em questão, as citações surgiram como uma métrica para medir o impacto de um trabalho ou de um pesquisador. Em termos simples, quanto mais citações obtiver, mais importante é considerado um trabalho.

No entanto, as coisas nem sempre funcionam assim. Por exemplo, quando uma descoberta ou técnica se torna de conhecimento comum, os cientistas frequentemente param de se preocupar em citá-la. Assim, os resultados científicos de maior impacto, aqueles tão impactantes que se tornaram "conhecimento comum", são via de regra pouco citados - eles são muito utilizados, mas ninguém faz uma nota de rodapé para eles.

Xiangyi Meng e seus colegas da Universidade Northeastern, nos EUA, decidiram estudar essa questão e saíram então em busca do que eles chamam de "citações ocultas" na literatura científica de física.

Para encontrar essas citações, a equipe usou aprendizado de máquina para detectar automaticamente frases que representam alusões no texto a 343 descobertas específicas, cada uma delas remontando a um artigo científico seminal, que lançou originalmente a descoberta impactante.

Por exemplo, artigos que usam a frase "discordância quântica" quase certamente usam conceitos que derivam de um artigo de 2001 de Harold Ollivier e Wojciech Zurek, mas as ideias nesse trabalho tornaram-se tão difundidas que mais de um terço dos artigos que envolvem a discórdia quântica não citam mais o artigo fundacional. Em alguns casos, as citações são desviadas para outras obras, como resenhas ou livros sobre o tema.

Preço do sucesso

A análise mostrou que, no geral, os artigos tendem a conter citações ocultas na mesma proporção que contêm citações explícitas, mas há uma variação considerável de artigo para artigo.

Por exemplo, o artigo de Alan Guth que introduziu a teoria da inflação cosmológica em 1982 teve 8,8 vezes mais citações ocultas do que citações explícitas. Se essas citações ocultas fossem explicitadas, este artigo seria o artigo mais citado no banco de dados de pré-impressão arXiv.

Na interpretação dos autores desta análise, as citações ocultas representam o "preço do sucesso": Quanto mais influente for uma ideia, maior será a probabilidade de ela se tornar tão familiar e bem compreendida que os cientistas já não sentirão a necessidade de citar explicitamente sua fonte.

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