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Diamante derretido: Cientistas observam carbono líquido pela primeira vez

Redação do Site Inovação Tecnológica - 17/09/2025

Diamante derretido: Cientistas observam carbono líquido pela primeira vez
O carbono em estado líquido foi observado experimentalmente pela primeira vez combinando um laser de alta potência com um flash de laser de raios X.
[Imagem: HZDR/M. Künsting]

Carbono líquido

Cientistas conseguiram pela primeira vez estudar o carbono líquido - pense em um diamante derretido - em um experimento de laboratório.

Estima-se que exista carbono líquido no interior dos planetas e estrelas, onde as condições de temperatura e pressão permitem, mas também há esperança de que a fase líquida do carbono desempenhe um papel em tecnologias futuras, como a fusão nuclear.

Até hoje, porém, sabemos muito pouco sobre o carbono em sua forma líquida porque o carbono não derrete sob pressão normal, passando imediatamente para o estado gasoso. Então é preciso chegar a uma pressão extrema e uma temperatura estimada em pelo menos 4.500 ºC - o ponto de fusão mais alto de qualquer material - para que o carbono se torne líquido de forma estável, mas aí nenhum recipiente suportaria contê-lo.

Para conseguir realizar esse experimento, uma grande equipe liderada por Dominik Kraus, da Universidade de Rostock e do Centro Helmholtz Dresden-Rossendorf, na Alemanha, usaram um superlaser, chamado DIPOLE 100-X, para fazer tudo muito rápido. O superlaser está localizado no XFEL, um gigantesco laboratório de laser de raios X que já fez coisas como cobre ficar transparente, disparar jatos de antimatéria e até simular o núcleo de uma estrela.

Diamante derretido: Cientistas observam carbono líquido pela primeira vez
As amostras de carbono vítreo foram submetidas à compressão de choque com o laser e a estrutura microscópica foi analisada por um pulso de raios X coletado por dois detectores.
[Imagem: D. Kraus]

Compressão a laser

A técnica utilizada é conhecida como compressão a laser, a mesma utilizada na fusão nuclear por confinamento inercial, onde fortes flashes de laser são dirigidos rumo a uma cápsula de combustível, fazendo-a colapsar com uma força suficiente para comprimir os átomos, iniciando a fusão.

O que a equipe demonstrou agora é que esta mesma técnica consegue fazer o carbono sólido transicionar para carbono líquido em frações de segundo.

No experimento, os pulsos de alta energia do laser DIPOLE100-X induziram ondas de compressão através de uma amostra de carbono sólido, liquefazendo o material durante alguns nanossegundos (bilionésimos de segundo). Durante esse momento fugaz, a amostra é irradiada com o flash ultracurto do laser de raios X do XFEL.

Os átomos de carbono espalham a luz de raios X, e esse padrão de difração permite colher informações sobre o arranjo dos átomos no carbono líquido.

O experimento inteiro dura apenas alguns segundos, mas a equipe repetiu isso muitas vezes, sempre com um pulso de raios X ligeiramente atrasado ou sob condições de pressão e temperatura ligeiramente diferentes. As inúmeras imagens instantâneas coletadas foram então combinadas para formar um filme, o que permitiu rastrear a transição da fase sólida para a líquida do carbono passo a passo.

Diamante derretido

As medições revelaram que a estrutura sistêmica do carbono líquido é semelhante à do diamante sólido, com cada átomo de carbono retendo quatro vizinhos próximos. Ou seja, sob a temperatura e pressão necessárias para que o carbono se liquefaça, o líquido resultante é um autêntico diamante derretido.

"Esta é a primeira vez que conseguimos observar a estrutura do carbono líquido experimentalmente. Nosso experimento confirma as previsões feitas por simulações sofisticadas de carbono líquido. Estamos observando uma forma complexa de líquido, comparável à água, que possui propriedades estruturais muito especiais," explicou Kraus.

Os pesquisadores também conseguiram determinar com precisão o ponto de fusão do carbono, que, com os 6.283,85 ºC medidos, é bem mais alta do que se calculava. Até o momento, as previsões teóricas sobre a estrutura e o ponto de fusão do carbono divergiam significativamente, mas o conhecimento preciso é crucial para a modelagem planetária e para alguns conceitos de geração de energia por fusão nuclear.

Bibliografia:

Artigo: The structure of liquid carbon elucidated by in situ X-ray diffraction
Autores: Dominik Kraus, J. Rips, M. Schörner, M. G. Stevenson, J. Vorberger, D. Ranjan, J. Lütgert, B. Heuser, J. H. Eggert, H.-P. Liermann, I. I. Oleynik, S. Pandolfi, R. Redmer, A. Sollier, C. Strohm, T. J. Volz, B. Albertazzi, S. J. Ali, L. Antonelli, C. Bähtz, O. B. Ball, S. Banerjee, A. B. Belonoshko, C. A. Bolme, V. Bouffetier, R. Briggs, K. Buakor, T. Butcher, V. Cerantola, J. Chantel, A. L. Coleman, J. Collier, G. W. Collins, A. J. Comley, T. E. Cowan, G. Cristoforetti, H. Cynn, A. Descamps, A. Di Cicco, S. Di Dio Cafiso, F. Dorchies, M. J. Duff, A. Dwivedi, C. Edwards, D. Errandonea, S. Galitskiy, E. Galtier, H. Ginestet, L. Gizzi, A. Gleason, S. Göde, J. M. Gonzalez, M. G. Gorman, M. Harmand, N. J. Hartley, P. G. Heighway, C. Hernandez-Gomez, A. Higginbotham, H. Höppner, R. J. Husband, T. M. Hutchinson, H. Hwang, D. A. Keen, J. Kim, P. Koester, Z. Konôpková, A. Krygier, L. Labate, A. Laso Garcia, A. E. Lazicki, Y. Lee, P. Mason, M. Masruri, B. Massani, E. E. McBride, J. D. McHardy, D. McGonegle, C. McGuire, R. S. McWilliams, S. Merkel, G. Morard, B. Nagler, M. Nakatsutsumi, K. Nguyen-Cong, A.-M. Norton, N. Ozaki, C. Otzen, D. J. Peake, A. Pelka, K. A. Pereira, J. P. Phillips, C. Prescher, T. R. Preston, L. Randolph, A. Ravasio, D. Santamaria-Perez, D. J. Savage, M. Schölmerich, J.-P. Schwinkendorf, S. Singh, J. Smith, R. F. Smith, J. Spear, C. Spindloe, T.-A. Suer, M. Tang, M. Toncian, T. Toncian, S. J. Tracy, A. Trapananti, C. E. Vennari, T. Vinci, M. Tyldesley, S. C. Vogel, J. P. S. Walsh, J. S. Wark, J. T. Willman, L. Wollenweber, U. Zastrau, E. Brambrink, K. Appel, M. I. McMahon
Revista: Nature
Vol.: 642, pages 351-355
DOI: 10.1038/s41586-025-09035-6
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