Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/12/2025

Ultrapreto
Sintetizar o material mais preto possível é um objetivo perseguido por inúmeros cientistas há décadas porque absorver o máximo possível de radiação eletromagnética, seja luz, calor ou qualquer outra frequência, tem inúmeros usos práticos.
Uma cor "ultrapreta", definida como capaz de refletir pelo menos 99,5% da luz que incide sobre ela, tem uma variedade de usos, incluindo em câmeras, painéis solares e telescópios. Contudo, além de difícil de produzir, os materiais nessa classe tipicamente parecem menos pretos quando vistos em ângulo, ou seja, quando a luz não incide diretamente sobre eles.
A vitória mais recente nessa busca acaba de ser conquistada por Hansadi Jayamaha e colegas da Universidade de Cornell, nos EUA, que foram buscar inspiração na natureza, mais especificamente no preto marcante de uma ave-do-paraíso, conhecida como ave-do-paraíso-de-garganta-metálica (Ptiloris magnificus).
As penas das aves, assim como as asas das borboletas e diversos outros exemplos naturais, não têm suas cores definidas por corantes, mas por nanoestruturas físicas, o que as torna cores estruturais. Ao contrário dos pigmentos das tintas e corantes, as cores estruturais emergem quando pequenas estruturas na superfície de um material refletem determinados comprimentos de onda da luz. O resultado é uma cor muito forte e vívida.

Tecido mais preto do mundo
A ave-do-paraíso-de-garganta-metálica tem sua plumagem preta resultando do pigmento melanina combinado com filamentos nas penas, chamados bárbulas, densamente agrupados, o que os faz refletirem a luz para dentro, absorvendo quase toda ela. Isso torna a ave extraordinariamente preta, mas apenas quando vista de frente - em um ângulo, sua plumagem parece brilhante.
Para reproduzir este efeito, a equipe pegou um tecido de malha de lã merino branca e aplicou-lhe uma tintura feita com polidopamina, que é basicamente uma melanina sintética. Em uma segunda etapa, o tecido tingido foi posto em uma câmara de plasma, que criou nanofibrilas, estruturas pontiagudas em nanoescala, que se parecem com as bárbulas naturais.
Ambas características tanto absorvem luz quanto imitam a capacidade de aprisionamento de luz das penas ultranegras da ave-do-paraíso.
O tecido ultrapreto apresenta uma refletância total média de 0,13%, tornando-o o tecido mais escuro já relatado na literatura científica. Além disso, ele se mantém ultrapreto em um ângulo de 120 graus, o que significa que apresenta a mesma aparência em ângulos de até 60 graus para cada lado, o que é muito superior aos materiais comerciais atualmente disponíveis.
"Do ponto de vista do projeto, acho empolgante porque muitos dos pretos extremos que existem não são tão fáceis de usar quanto o nosso. E ele permanece preto extremo mesmo em ângulos mais abertos," disse a professora Larissa Shepherd.