Redação do Site Inovação Tecnológica - 03/06/2025
Fazer virtualmente ou fazer realmente
Aprender com os próprios erros não parece ser um conselho que se deva dar para médicos para que estejam aprendendo a fazer cirurgias cardíacas ou para pilotos de avião que deverão conduzir aeronaves com centenas de passageiros.
Mas estes dois exemplos também podem dar a impressão de que a realidade virtual seria a solução para todo tipo de problema complexo, e esta também não é a realidade: A tecnologia tem seus limites.
"A realidade virtual não serve para tudo," destaca o professor Jeremy Bailenson, da Universidade de Stanford, nos EUA. "O que demonstramos há muito tempo no laboratório é que a RV é ótima quando usada com moderação e reflexão. Fora isso, os prós geralmente não superam os contras."
A fim de dar conselhos mais fundamentados e, sobretudo, às pessoas certas, Bailenson e seus colegas partiram para uma revisão geral da área, procurando aplicações nas quais a realidade virtual pode ajudar e aquelas nas quais ela irá mais atrapalhar.
Embora empresas como Meta e Apple estejam investindo pesadamente na tecnologia, apostando na sua ampla adoção pelos consumidores, as conclusões da análise mostram que ela é melhor utilizada em doses curtas - minutos, não horas - e apenas para determinadas finalidades.
Os pesquisadores recomendam reservar a RV para experiências que, se realizadas no mundo real, seriam perigosas, impossíveis, contraproducentes ou caras.
Veja a seguir alguns exemplos do que fazer e do que não fazer em realidade virtual.
1. Viaje para lugares incríveis ou desafiadores para você. Não use RV para reuniões comuns.
Se chegar na beira de um dos precipícios do Grand Canyon ou enfrentar o frio para conhecer a Antártica é muito para você, então a realidade virtual é o veículo certo para você embarcar. A natureza visceral da RV se presta bem a experiências em que "estar presente" importa.
De fato, alguns psicólogos estão usando a RV em terapias de exposição, permitindo que as pessoas enfrentem algo que temem enquanto estão fisicamente seguras. Um desses estudos revelou que pessoas tratadas com RV por apresentarem medo de viajar de avião não apresentaram retorno dos sintomas três anos depois.
Mas o valor da RV se esvai se o ambiente não for dramático. Embora houvesse esperanças durante a pandemia de que as pessoas recorressem à RV para reuniões mais envolventes, essa ideia não se concretizou. "Se você fica sentado ali, olhando fixamente, sem mexer o corpo, provavelmente consegue fazer isso no computador e economizar tempo com os fones de ouvido," disse Bailenson.
2. Aprenda cirurgia ou oratória. Não resolva problemas básicos de matemática.
Os educadores tinham grandes esperanças na realidade virtual desde que os simuladores foram usados pela primeira vez para treinar pilotos, lá nos idos de 1929. Com o desenvolvimento da tecnologia, porém, tornou-se evidente que a RV não acrescenta muito ao aprendizado abstrato, que pode ser bem ensinado em um quadro-negro.
Em vez disso, a realidade virtual é melhor utilizada com habilidades de aprendizado procedimentais, que exigem um passo e depois outro, como pode ser feito em situações de cirurgia ou dissecação. Tarefas espaciais, em que movimento e imersão são úteis, também funcionam bem em RV, como praticar comportamento não verbal ou se apresentar diante de uma multidão.
3. Experimente uma nova identidade em RV, mas certifique-se de que ela seja adequada.
Experimentos científicos mostram que a autopercepção muda o comportamento das pessoas, seja no mundo virtual ou no mundo real. Por exemplo, se as pessoas escolhem avatares mais atléticos, tendem a se movimentar mais. Aqueles com avatares mais altos tendem a negociar de forma mais agressiva. O oposto também é verdadeiro, o que significa que os usuários devem ter cuidado ao escolher um avatar.
"Entenda que qualquer avatar que você usar mudará a maneira como você se comporta dentro da RV e por algum tempo depois de sair," disse Bailenson. "Portanto, seja criterioso e use plataformas que permitam que você escolha um avatar que corresponda ao seu eu real ou ideal."
4. Faça aulas de ginástica em RV. Não tente aprender a arremessar uma bola de beisebol.
O treinamento atlético é um ótimo uso para a realidade virtual, exceto quando se trata de movimentos de precisão. Os usuários têm dificuldade em avaliar a distância no mundo virtual, concluiu a análise. É um problema persistente que a tecnologia ainda não superou.
"Atividades espaciais de alto nível são ótimas em RV, mas quando você busca precisão centimétrica, deve ter cuidado ao usar aplicativos comerciais de RV," reforçou Bailenson.
5. Você pode correr em RV, mas não pode se esconder.
Pesquisas mostram que as pessoas são facilmente identificadas pela forma como movimentam seus corpos. Portanto, os usuários devem estar cientes de que, mesmo que o próprio avatar oculte sua identidade, os milhões de pontos de dados de movimento coletados automaticamente pelo sistema podem identificá-los. Não há anonimato verdadeiro ao usar óculos de RV.
"Em RV, você movimenta seu corpo e a cena responde. É isso que torna o meio tão especial," destacou Bailenson. "Os movimentos naturais do corpo são tão importantes que o meio literalmente não irá funcionar se você desativar o rastreamento de movimento."
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