Redação do Site Inovação Tecnológica - 12/12/2025

Enxofre e vida
No início deste ano, astrônomos anunciaram a descoberta de fortes indícios de atividade biológica em um exoplaneta localizado a 124 anos-luz de distância, na constelação do Leão.
O que eles encontraram no exoplaneta K2-18b foi o sulfeto de dimetila, um composto orgânico de enxofre que aqui na Terra é produzido por algas marinhas, portanto, um subproduto da vida.
De fato havia razões para o entusiasmo, porque até agora os cientistas sempre acreditaram que os compostos de enxofre aqui na Terra só se originaram depois da emergência da vida, sendo sua fonte primária. Assim como o carbono, o enxofre é um elemento essencial encontrado em todas as formas de vida, das bactérias unicelulares até os seres humanos. Ele faz parte de alguns aminoácidos, que são os blocos de construção das proteínas.
Embora a atmosfera da Terra primitiva contivesse enxofre elementar, os cientistas acreditavam que os compostos orgânicos de enxofre, ou biomoléculas como os aminoácidos, só teriam surgido posteriormente como produto de sistemas vivos. E, nas simulações da Terra primitiva, os cientistas ou não conseguiram detectar quantidades significativas de biomoléculas de enxofre antes do surgimento da vida, ou chegaram a essas moléculas apenas quando as simulações incluíram condições específicas que provavelmente não seriam comuns em nosso planeta.
Agora, contudo, todo esse saber está sendo questionado, o que também vem colocar em dúvida a possibilidade de os compostos encontrados no K2-18b serem indicadores de alguma forma de vida extraterrestre.

Compostos abióticos de enxofre
Nathan Reed e colegas da Universidade do Colorado, nos EUA, descobriram que a atmosfera da Terra primitiva tinha todas as condições necessárias para produzir moléculas contendo enxofre, contestando a noção de que elas seriam unicamente frutos da vida.
A equipe já havia sintetizado em laboratório o mesmo composto sulfeto de dimetila usando apenas luz e gases atmosféricos comuns, o que já era um indício de que essa molécula poderia surgir em locais desprovidos de vida.
Eles então partiram para tentar descobrir se a atmosfera terrestre primitiva poderia ter as mesmas condições usadas em seu experimento. Para isso, eles iluminaram uma mistura gasosa contendo metano, dióxido de carbono, sulfeto de hidrogênio e nitrogênio, simulando a atmosfera da Terra antes do surgimento da vida.
Os experimentos resultaram em um conjunto completo de biomoléculas de enxofre, incluindo os aminoácidos cisteína (C3H7NO2S) e taurina (C2H7NO3S), bem como a coenzima M (C2H5O3S2), um composto essencial para o metabolismo.

Suficiente para emergência da vida
Quando os experimentos foram extrapolados para calcular quanta cisteína a atmosfera inteira da Terra primitiva poderia produzir, os resultados mostraram cisteína suficiente para abastecer cerca de um octilhão - um 1 seguido de 27 zeros - de células. Atualmente, a Terra possui cerca de um nonilhão - um 1 seguido de 30 zeros - de células.
"Embora não seja tanto quanto a quantidade presente hoje, ainda era muita cisteína em um ambiente sem vida. Isso poderia ser suficiente para um ecossistema global em desenvolvimento, onde a vida está apenas começando," disse Reed.
"Nós costumávamos pensar que a vida tinha que começar do zero, mas nossos resultados sugerem que algumas dessas moléculas mais complexas já estavam amplamente distribuídas em condições não especializadas, o que pode ter facilitado um pouco o surgimento da vida," acrescentou a professora Eleanor Browne.