Redação do Site Inovação Tecnológica - 02/12/2025

Desbancando a evolução
Cientistas afirmam que a vida moderna ultrapassou a evolução humana.
Os professores Colin Shaw (Universidade de Zurique) e Daniel Longman (Universidade de Loughborough) argumentam que o estresse crônico e muitos problemas de saúde modernos são resultado de uma incompatibilidade evolutiva entre a nossa biologia, que é primordialmente adaptada à natureza, e os ambientes urbanizados que habitamos atualmente.
O ponto levantado pelos dois antropólogos evolucionistas é que, ao longo de centenas de milhares de anos, os humanos adaptaram-se às exigências da vida de caçadores-coletores, o que envolve alta mobilidade, estresse intermitente, e não contínuo, e uma estreita interação com o ambiente natural.
A industrialização, por outro lado, transformou o ambiente humano em apenas alguns poucos séculos, introduzindo diversos níveis de poluição (sonora, atmosférica e luminosa), pesticidas, plásticos, estimulação sensorial constante, luz artificial, alimentos processados e estilos de vida sedentários.
"Em nossos ambientes ancestrais, éramos bem adaptados para lidar com o estresse agudo, seja para escapar ou confrontar predadores," explica Shaw. "O leão aparecia de vez em quando, e você tinha que estar pronto para se defender - ou fugir. O importante é que o leão vá embora."
E é aí que mora o problema: Os fatores de estresse atuais não vão embora. Trânsito, exigências do trabalho, redes sociais, ruído, noites com luz, apenas para citar alguns, acionam os mesmos sistemas biológicos que o predador na savana, mas nunca passam, nem sequer dando tempo para que o corpo humano se recupere.
"Nosso corpo reage como se todos esses fatores de estresse fossem leões," disse Longman. "Seja uma conversa difícil com seu chefe ou o barulho do trânsito, seu sistema de resposta ao estresse continua o mesmo como se você estivesse enfrentando um leão atrás do outro. Como resultado, você tem uma resposta muito forte do seu sistema nervoso, mas nenhuma recuperação."

Saúde e reprodução sob pressão
Em sua análise, Shaw e Longman sintetizam conclusões de estudos científicos que indicam que a industrialização e a urbanização estão prejudicando a aptidão evolutiva humana. De um ponto de vista evolutivo, o sucesso de uma espécie depende da sobrevivência e da reprodução, mas, segundo os autores, ambas foram afetadas negativamente desde a Revolução Industrial.
Os pesquisadores apontam para a queda nas taxas globais de fertilidade e o aumento dos níveis de doenças inflamatórias crônicas, como as doenças autoimunes, como sinais de que os ambientes industriais estão causando um impacto biológico.
"Existe um paradoxo: Por um lado, criamos imensa riqueza, conforto e assistência médica para muitas pessoas no planeta," comentou Shaw. "Mas, por outro lado, algumas dessas conquistas industriais estão tendo efeitos prejudiciais em nossas funções imunológicas, cognitivas, físicas e reprodutivas."
Um exemplo bem documentado é o declínio global na contagem e motilidade dos espermatozoides observado desde a década de 1950, que Shaw associa a fatores ambientais. "Acredita-se que isso esteja ligado a pesticidas e herbicidas nos alimentos, mas também aos microplásticos," observa ele.

Projetando ambientes para o bem-estar
A conclusão fundamental da dupla é que, considerando o ritmo das mudanças tecnológicas e ambientais, a evolução biológica não consegue acompanhar. "A adaptação biológica é muito lenta. As adaptações genéticas de longo prazo são multigeneracionais - dezenas a centenas de milhares de anos," justifica Shaw.
Isso significa que a incompatibilidade entre nossa fisiologia, fruto da evolução, e as condições modernas, provavelmente não se resolverá naturalmente. Em vez disso, argumentam os pesquisadores, as sociedades precisam mitigar esses efeitos repensando sua relação com a natureza e projetando ambientes mais saudáveis e sustentáveis.
E resolver essa discrepância exigirá soluções tanto culturais quanto ambientais. "Uma abordagem é repensar fundamentalmente nossa relação com a natureza, tratando-a como um fator-chave para a saúde e protegendo ou regenerando espaços que se assemelham aos do nosso passado de caçadores-coletores," sugere Shaw.
Outra abordagem envolve projetar cidades mais saudáveis e resilientes, que levem em consideração a fisiologia humana. "Nossa pesquisa pode identificar quais estímulos afetam mais a pressão arterial, a frequência cardíaca ou a função imunológica, por exemplo, e transmitir esse conhecimento aos tomadores de decisão," disse Shaw. "Precisamos acertar em nossas cidades e, ao mesmo tempo, regenerar, valorizar e passar mais tempo em espaços naturais."