Redação do Site Inovação Tecnológica - 03/07/2025
Como as estrelas explodem?
Pela primeira vez, astrônomos obtiveram provas visuais de que uma estrela encontrou o seu fim ao explodir duas vezes.
Ao estudarem os restos da supernova SNR 0509-67.5, usando o telescópio VLT, no Chile, os cientistas encontraram padrões que confirmam que a estrela original sofreu um par de explosões há algumas centenas de anos.
A maior parte das supernovas tem origem na morte explosiva de estrelas massivas. Contudo, existe um tipo que supernova que tem origem em estrelas menores. Por exemplo, as anãs brancas, pequenos núcleos inativos que sobram depois que estrelas como o nosso Sol queimam todo o seu combustível, podem dar origem ao que os astrônomos chamam uma supernova do tipo Ia.
"As explosões de anãs brancas desempenham um papel crucial na astronomia," disse Priyam Das, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, que liderou o estudo sobre a supernova SNR 0509-67.5. "Grande parte do nosso conhecimento sobre a forma como o Universo se expande assenta em supernovas de tipo Ia, as quais são também a principal fonte de ferro do nosso planeta, incluindo o ferro que temos no sangue. No entanto, e apesar da sua importância, o mistério de longa data do mecanismo exato que desencadeia a sua explosão continua por ser resolvido."
Todos os modelos que explicam as supernovas do tipo Ia têm uma anã branca como uma das componentes em um par de estrelas em que uma orbita a outra, o chamado binário. Se orbitar suficientemente perto da outra estrela, a anã branca pode lhe roubar material. Segundo a teoria mais aceita sobre a origem das supernovas de tipo Ia, a anã branca acumularia matéria da sua companheira até atingir uma massa crítica, quando então sofreria uma única explosão.
No entanto, estudos recentes sugerem que pelo menos algumas supernovas do tipo Ia podem ser melhor explicadas por uma explosão dupla, ocorrendo antes de a estrela atingir essa massa crítica. É isso o que comprova esta imagem recém-obtida.
Estrela que explodiu duas vezes
Esta nova imagem prova que pelo menos algumas supernovas tipo Ia explodem por meio de um mecanismo de dupla detonação. Nesse modelo alternativo, a anã branca acumula em torno de si um manto de hélio roubado da sua companheira, que pode tornar-se instável e incendiar-se. A primeira explosão gera uma onda de choque que se desloca em torno e para o interior da anã branca, disparando uma segunda detonação no núcleo da estrela, quando então se origina a supernova.
Recentemente, os astrônomos previram teoricamente que uma dupla detonação em uma anã branca criaria um padrão característico, uma impressão digital nos restos ainda brilhantes da supernova, que seria visível muito depois da explosão inicial. A teoria sugere que os restos de uma supernova desse tipo conteriam duas conchas de cálcio separadas.
E foram justamente essas estruturas que foram encontradas nos restos da supernova, "uma indicação clara de que as anãs brancas podem explodir muito antes de atingirem o famoso limite de massa de Chandrasekhar, e que o mecanismo de 'dupla detonação' ocorre de fato na natureza," disse Ivo Seitenzahl, do Instituto de Estudos Teóricos de Heidelberg, na Alemanha.
Com o auxílio do instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer), montado no VLT, a equipe detectou camadas de cálcio, o elemento responsável pela cor azul da imagem, nos restos da supernova SNR 0509-67.5, uma evidência clara de que uma supernova tipo Ia pode ocorrer antes da sua anã branca progenitora atingir a massa crítica.
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