Redação do Site Inovação Tecnológica - 17/09/2025

Origem abiótica
As plumas de água ejetadas pela lua Encélado, de Saturno, fizeram com que os cientistas a apontassem como o provável abrigo da vida extraterrestre mais próxima da Terra, uma vez que essas plumas parecem se originar de um oceano global por baixo de suas extensas camadas de gelo.
E isso é promissor porque os sinais de vida nessas plumas podem ser coletados do espaço, sem precisar de uma missão de pouso, muito mais complicada e cara.
Mas Grace Richards e colegas do Instituto Nacional de Astrofísica e Planetologia Espacial, na Itália, acabam de jogar um balde de água fria nessa hipotética vida na lua Encélado.
Acontece que as moléculas orgânicas detectadas nas plumas aquosas que saem das rachaduras na superfície de Encélado podem ser formadas pela exposição do gelo da superfície à radiação presente no próprio sistema de Saturno, em vez de se originarem nas profundezas do oceano subterrâneo.
"Embora a identificação de moléculas orgânicas complexas no ambiente de Encélado continue sendo uma pista importante na avaliação da habitabilidade da lua, os resultados demonstram que a química causada pela radiação na superfície e nas plumas também pode criar essas moléculas," destacou Richards.

Relevância astrobiológica
A sonda espacial Cassini descobriu essas plumas - e voou através delas - em 2005, detectando algumas das moléculas nelas presentes e descobrindo que elas são ricas em sais, além de conterem uma variedade de compostos orgânicos (à base de carbono e nitrogênio).
Como compostos orgânicos, dissolvidos em um oceano de água subterrânea, poderiam se transformar em moléculas prebióticas, precursoras da vida, aquelas descobertas chamaram a atenção dos astrobiólogos, que apontaram a possibilidade de coleta de biomarcadores de vida nas plumas.
No entanto, os experimentos realizados agora pela equipe italiana mostram que a exposição à radiação retida na poderosa magnetosfera de Saturno pode desencadear a formação desses compostos orgânicos na superfície gelada de Encélado, indicando que as moléculas podem não ser originárias de um oceano de subsuperfície, questionando sua relevância astrobiológica.
"Moléculas consideradas prebióticas poderiam plausivelmente se formar in situ por meio do processamento de radiação, em vez de necessariamente se originarem do oceano subterrâneo," disse Richards. "Embora isso não exclua a possibilidade de que o oceano de Encélado seja habitável, significa que precisamos ser cautelosos ao fazer essa suposição apenas por causa da composição das plumas."