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Amostras do asteroide Ryugu mostram história desde antes do Sistema Solar

Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/06/2022

Amostras do asteroide Ryugu mostram história desde antes do Sistema Solar
Aparência externa de várias partículas representativas de Ryugu analisadas pela equipe.
[Imagem: E. Nakamura et al. - 10.2183/pjab.98.015]

Rochas mais primitivas já vistas

Cientistas japoneses divulgaram as mais detalhadas análises feitas até agora das amostras coletadas do asteroide Ryugu e trazidas de volta à Terra pela sonda espacial Hayabusa 2 em 2020.

A equipe usou as melhores ferramentas analíticas disponíveis para estudar seções polidas de amostras dos dois locais de pouso da Hayabusa 2 - uma análise preliminar das amostras do asteroide havia sido divulgada no ano passado.

As análises mostraram que as amostras consistem principalmente de minerais formados em um fluido aquoso em um corpo celeste primordial, do qual Ryugu se originou.

Surpreendentemente, as datações indicam que a formação desses minerais aconteceu cerca de 5 milhões de anos após a formação do Sistema Solar - isso é menos do que um piscar de olhos nos bilhões de anos que decorreram desde então.

Isto torna as amostras de Ryugu os materiais mais primitivos e intocados do Sistema Solar já analisados em laboratório, muito mais puros do que os meteoritos condritos carbonáceos encontrados na Terra - as amostras do Ryugu se parecem com meteoritos do tipo Ivuna.

Amostras do asteroide Ryugu mostram história desde antes do Sistema Solar
Características internas das partículas.
[Imagem: E. Nakamura et al. - 10.2183/pjab.98.015]

Ação da água - líquida e congelada

Quando as amostras foram cortadas, as partículas revelaram texturas indicativas de congelamento-descongelamento e uma massa de grãos finos de diferentes minerais, com alguns componentes de granulação mais grossa amplamente dispersos.

A maioria dos minerais são silicatos hidratados chamados filossilicatos (argila), que se formaram por meio de reações químicas envolvendo minerais silicatados não hidratados e água líquida (alteração aquosa).

Essas duas características - texturas de congelamento-descongelamento e composição - são indícios de que as amostras tiveram contato com água líquida e água congelada no passado.

A alteração aquosa atingiu o pico antes de 2,6 milhões de anos após a formação do Sistema Solar, uma conclusão vinda da análise de manganês e cromo em minerais de magnetita (óxido de ferro) e dolomita (carbonato de cálcio-magnésio). Isso significa que os materiais no Ryugu tiveram contato com água líquida muito cedo na história do Sistema Solar, reforçando as hipóteses de a água da Terra já estava por aqui antes do nascimento do planeta.

O calor que derreteu o gelo teria sido fornecido por elementos radioativos, que sobrevivem apenas por um período de tempo relativamente curto - quase todos devem ter desaparecido depois de cerca de 5 milhões de anos. Depois que a maioria dos elementos radioativos decaíram, o corpo celeste original esfriou e congelou novamente.

Amostras do asteroide Ryugu mostram história desde antes do Sistema Solar
Visão geral dos processos que levaram à formação e evolução do atual Ryugu.
[Imagem: E. Nakamura et al. - 10.2183/pjab.98.015]

Materiais orgânicos

O asteroide Ryugu também contém isótopos de cromo, cálcio e oxigênio, que indicam que ele preservou a fonte mais primitiva de materiais da nebulosa protossolar - o disco de poeira no centro do qual o Sol nasceu.

Talvez mais interessante, os materiais orgânicos - materiais à base de carbono - existente em Ryugu registram assinaturas isotópicas primitivas, sugestivas de sua formação no meio interestelar (a região do espaço entre os sistemas solares) ou nebular protossolar externa. Juntamente com a água abundante e a falta de qualquer material ou assinatura do Sistema Solar interno, os dados sugerem que o material dentro de Ryugu já estava grudado (agregado) e alterado pelo meio aquoso muito cedo, e localizado no Sistema Solar externo.

Dado que, para formar água líquida a partir do aquecimento de um corpo rochoso e gelado por decaimento radioativo, é necessário que o corpo tenha pelo menos várias dezenas de quilômetros de diâmetro, o asteroide Ryugu deve ter sido originalmente parte de um corpo muito maior, conhecido como planetesimal, e que também se acredita ser a origem dos cometas.

Esse conjunto de resultados é um tanto surpreendente e parece dar à missão Hayabusa 2 um lugar na história da exploração espacial muito mais proeminente do que se acreditava. De fato, várias dessas informações mudam nossa compreensão dos eventos que ocorreram antes do Sistema Solar, e de sua formação até os dias atuais.

Bibliografia:

Artigo: On the origin and evolution of the asteroid Ryugu: A comprehensive geochemical perspective
Autores: E. Nakamura et al.
Revista: Proceedings of the Japan Academy
DOI: 10.2183/pjab.98.015

Artigo: Samples returned from the asteroid Ryugu are similar to Ivuna-type carbonaceous meteorites
Autores: Tetsuya Yokoyama et al.
Revista: Science
DOI: 10.1126/science.abn7850
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